sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Sermão ou Bom ladrão


Escreve-me um ex-aluno, que há anos não vejo e do qual não tenho notícias: 
"Prof tu foi meu prof (...) e eu sempre gostava das tuas aulas... Me formei BACHAREL em DIREITO em 2010 e ainda estou batalhando pela OAB. Estava firme de que o STJ ia declarar a inconstitucionalidade desse exame que é uma verdadeira forma de manter bons advogados fora do mercado de trabalho, reservando os clientes para os mais velhos. 

Pensei bastante e conversei com meu pai que me sugeriu procurar outras formas de usar meu título de BACHAREL em DIREITO e sempre tive vontade de ser ou juiz ou professor ou promotor... Por isso te escrevo, para saber como é que eu faço para ser professor na faculdade. Vou tentar os concursos pra juiz também mas por enquanto isso quero ser professor e para isso não preciso de OAB nem de concursos de magistratura, já que sou BACHAREL em DIREITO. 

Quais as dicas que tu dá pra quem quer ser professor de DIREITO? Eu sempre gostei de estudar e de ler e de falar... 

Obrigado professor.

Abs"
Isso me lembrou de uma historieta que se conta do Ruy Barbosa. 
Um aluno questionou como faria para dominar o vernáculo com a maestria que ele tinha. A Águia de Haia mandou-lhe ler a obra do Pe. Vieira. O estudante, ainda não satisfeito, disse que já havia lido o Pe. Vieira e gostaria de saber como o mestre Ruy havia feito para dominar a inculta e bela. Ruy Barbosa, impassível, disse: faça como eu fiz, continue a ler o Pe. Vieira. O estudante, nem um pouco satisfeito com a resposta, interpelou o Mestre: "Prof. Ruy Barbosa, o senhor não está entendendo: Eu quero saber como faço para usar o português como o senhor". Ruy Barbosa calmamente responde: "Nunca pare de ler o Pe. Vieira".

Dicas, meu caro ex-aluno? Sinceramente não sei o "caminho das pedras". 
Mas sugiro continuar estudando. E depois disso, continuar estudando. E nunca parar de estudar. E quando sobrar um tempo, leia os Sermões do Pe. Vieira. Ser-te-ão de enorme valia. E, se no meio disso tudo tu ainda tiver um tempinho, passa na prova da OAB. 

Isso me levou a pensar sobre a imagem do professor universitário nas faculdades de direito que formam esses BACHARÉIS em DIREITO. Sou o único?! 


Update: Meu ídolo Bruno Aleixo avisou-me que, também ele, é apreciador do estilo do Pe. Vieira.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Continuarei.

Recebi o seguinte comentário em um post bastante antigo: 
Please tell me that youre going to keep this up! Its so great and so important. I cant wait to read far more from you. I just feel like you know so substantially and know how to make people listen to what you've got to say. This weblog is just also cool to be missed. Excellent stuff, really. Please, PLEASE keep it up!
O blogspot me deu a opção de marcar como spam. Tá louco, blogspot? 
Esse é uma opinião séria, real e que leva em conta tudo que eu tenho pra dizer. 

Obrigado, comentarista. Thank you very much. 



domingo, 9 de outubro de 2011

Flaschen Peter



Há um velho mendigo aqui em Heidelberg conhecido por Flaschen Peter (Pedro Garrafa, numa tradução livre). Ele frequenta todas as palestras  gratuitas oferecidas pela faculdade de direito, de filosofia e de história (e não são poucas).
Já o encontrei em muitas, e ele sempre lá, fedendo, com suas roupas sujas e rasgadas.
Dias atrás resolvi perguntar para um conhecido se ele sabia quem era aquele sujeito e porque ele frequentava as palestras se ele não entendia nada.

Ele me olhou e com um riso cínico respondeu: “Pedrinho, as aparências enganam...”. E saiu caminhando. Depois me mandou um email explicando. Sem saco pra traduzir o email, faço um pequeno resumo: esse sujeito, o Flaschen Peter, era um aluno brilhante da faculdade de história e filosofia e se formou com todas as láureas possíveis. Depois de um tempo, recebeu um convite para fazer doutorado com um respeitado professor de história das ideias e história da filosofia. Ele se recusou e disse que preferia manter a sua liberdade.

Hoje ele vive em total liberdade acadêmica, lendo o que quer (não poucas vezes o encontrei na biblioteca central), frequentando as palestras que tem interesse, recolhendo garrafas para poder comer, dormindo em bancos de praça e tomando banho em um chafariz na frente do Deutsche Bank.

Nunca o vi fazendo perguntas ou anotações, mas reza a lenda que há uns anos ele humilhou um professor que deu dados errados sobre a história da Alemanha no baixo medievo. Vai saber... 

Cansei. Tô cansadinho.

Aí me escreve um amigo:


“Pedrinho, por que tu não escreve mais? Cansou? Teus dois leitores sentem a tua falta...

Respondi a ele então, e respondo aqui agora: cansei. Há tempos que venho pensando nisso.
Estou cansado. Passo os dias fazendo a mesma coisa há dois anos. Venho para o mesmo lugar todo santo dia há nove meses.
“As coisas são lentas” alertava-me um professor antes de eu vir pra cá. Mas tão lentas assim, porra?! Não dá pra acelerar só um pouquinho?
Deixo a construção de blogs para as pessoas que sabem escrever; ou aquelas que só querem derramar no papel a sua ignorância; ou, melhor, aquelas que realmente acreditam que têm algo a dizer.
Eu não tenho nada a dizer. Só que cansei.