Lendo essa notícia lembrei-me de como eu sou um cara insensível. Não que eu não sinta pela morte de um grande escritor. Não é isso. Eu sinto. E mais: acho que o mundo (os EUA em especial) fica mais pobre intelectualmente sem J.D. Salinger.
Insensível por que, ao contrário de 99% dos meus amigos, O Apanhador no Campo de Centeio não mudou a minha vida.
Nem para o bem, nem para o mal.
Holden nunca foi uma figura heroica, nem mesmo admirável, para mim. Sempre o achei meio vulgar e, por vezes, óbvio demais. Não tive vontade de fugir de casa e tentar a vida numa cidade grande, o que seria o bem. Nem quis matar nenhum roqueiro metido a hippie, para o mal. Nada. Nenhum sentimento. Comecei a ler o livro um Pedrinho e terminei de ler o livro o mesmo Pedrinho. Nem Heráclito acertou nessa. Eu entrei no livro várias vezes e era, para minha surpresa e decepção, o mesmo livro; e eu o mesmo Pedrinho.
A primeira leitura d' O Apanhador aconteceu há uns bons 11 anos. Já durante a faculdade resolvi, uma vez mais, mudar a minha vida. Resultado: comprei a versão pocket do Catcher in the Rye numa Feira do Livro, corria novembro de 2003. Se a tradução em português não me transformou numa pessoa diferente, quem sabe o original, na língua pretendida pelo autor, conseguiria a façanha.
Nada.
Novamente fiquei decepcionado. Não com o livro, por óbvio. Muito pelo contrário: em inglês o livro é muito melhor, com uma linguagem mais clara e mais fluida. Decepcionado comigo. Por ser insensível, filisteu, bruto, ignorante e/ou qualquer outro adjetivo que se queira. Li o livro, dessa vez quase que de um fôlego só, e, mais uma vez, nada. Não fugi e para o bem e para o mal (tenho quase certeza) não matei ninguém.
Juro que ainda hoje tento me transformar em uma outra pessoa. Quem sabe agora, em uma outra língua e com o autor morto eu consiga, finalmente, o que tantas outras pessoas já conseguiram: dizer em alto e bom som
“O Apanhador no Campo de Centeio mudou a minha vida!”.
Oxalá! Torçam por mim...