terça-feira, 22 de junho de 2010

Ô loco, meu!

Maravilhas do mundo moderno. Estava procurando uma tradução para um parágrafo do Goethe, que eu teimava em ler e não entender, quando me deparei com esta pérola.



Fausto Silva apresenta Goethe

FS - E agora, exatamente às dezoito horas e trinta minutos, nós vamos trazer aquele que é um grande ícone da poesia mundial! Ééé, bicho, tá pensando o quê? Não é brincadeira o que esse cara faz, não. Ele é considerado por muitos o maior poeta da história da Alemanha! Diretamente da corte de Weimar para a sua telinha, vem aí o glorioso Johann Wolfgang von Goethe aqui no “Domingão”!

(Entra JWG, um pouco assustado com a gritaria do público.)

FS – Grande garoto! Essa ferinha aqui foi quem escreveu aquela história do cara que faz um pacto com o diabo -e o cara era meu xará, é brincadeira? O Brasil todo aplaude…

JWG, timidamente O sprich mir nicht von jener bunten Menge/ Bei deren Anblick uns der Geist entflieht…

FS (interrompendo) – Esse é o super-Goethe! Monstro sagrado da teledramaturgia alemã! Grande figura humana, tanto no pessoal quanto no profissional!

JWGKennst du das Land wo die Zitronen blühn?

FS – Orra, se conheço, meu. Morei cinco anos em Bebedouro…

(O poeta faz “nein-nein” com o indicador, vira-se e aponta para Caçulinha, que começa a tocar o lied de Schubert. JWG, na sua melhor voz de Dietrich Fischer-Dieskau, manda ver:)

JWG“Kennst du das Land, wo die Zitronen blühn/Im dunkeln Laub die Gold-Orangen glühn…”

FS – Ô loco! Concertos pra juventude, galera! Quem sabe faz ao vivo!

"E o cara era meu xará" 
Sensacional!!!

PS - Para quem tiver interesse, pode-se ouvir (é obséquio esquecer a imagem) o tenor mencionado no texto, Dietrich Fischer-Dieskau, cantando Das Lied im Grünen, do Franz Schubert. 

domingo, 13 de junho de 2010

Tomorrow, and tomorrow, and tomorrow

Na peça Macbeth, Shakespeare, numa de suas estrofes mais famosas, descreve o que ele entende seja a vida. Pela voz de Macbeth, depois de ser avisado por Seyton que Lady Macbeth estava morta, declama:  a vida “é um conto, narrado por um idiota, cheio de som e de fúria, sem sentido algum"  (Ato 5, Cena 5).  

Como já contei aqui, fui obrigado a ler isso bem cedo. Meu pessimismo, como se vê, não é gratuito. Vem das leituras que fiz e que fui obrigado a fazer. Mas, principalmente, da miséria com a qual sou obrigado – jamais escolhi vivenciar isso – a conviver.  

Esses versos me foram escritos por um amigo dileto, depois de me informar que um conhecido, que trabalhava no mesmo lugar que eu, fora assassinado por jovens em função de um carro e algum dinheiro.  No mesmo dia fico sabendo que os filhos de uma senhora digna se digladiam em virtude de uma herança. 

Há pessoas que creem que o ser humano é capaz de prodígios e, se bem condicionado, capaz de se tornar um “novo homem”. Outros chegam a gritar que “um outro mundo é possível”. Eu, pessimista (realista?) só vejo miséria no futuro do homem. Miséria, tragédia e tristeza. Nada mais.

Enfim, um conto, narrado por um idiota, cheio de som e de fúria, sem sentido algum.  

terça-feira, 8 de junho de 2010

Review

A história é antiga. Nem por isso deixa de ser tragicômica. Faco um resumo dos fatos:

Uma professora de uma conhecida Universidade israelense publicou um livro sobre os procedimentos do Tribunal Penal Internacional. A editora que havia publicado o livro enviou a obra para uma importante Revista de Direito Internacional. O Editor da revista selecionou entre os revisores cadastrados e enviou o livro a um professor alemão, reconhecido especialista na área.  

Depois de algumas semanas recebeu uma review do livro. A review não era nem um pouco elogiosa. Tecia, em pouquíssimas linhas, uma crítica dura sobre o livro, o conteúdo, a abordagem e, por fim, a editoração do livro. Tudo normal, tudo bem.  

Até que a autora do livro, professora já antiga, tomasse conhecimento da crítica.

Enviou carta enfurecida ao editor da publicação, exigindo que a review fosse imediatamente retirada do site da Revista e de quaisquer outros sites administrados pelo Editor. Afirmava que a review era desrespeitosa, não condizia com o conteúdo do livro, beirava a má-fé e a mentira e, ainda, prejudicava a sua reputação acadêmica. Agora o principal: fazia uma ameaça velada ao Editor, afirmando que a liberdade de expressão na Franca não era tao ampla como a garantida pela Primeira Emenda da Constituição dos EUA (onde está o servidor que hospedou o site onde foi publicada a crítica).  

O Editor, em longa carta, respondeu a Autora, afirmando que não via razoes suficientes para retirar a review do site, e que – mesmo que não concordasse com o conteúdo da crítica – acreditava que essas reviews eram de suma importância para o mundo acadêmico e para o pleno desenvolvimento da ciência do direito.  

A professora israelense, não satisfeita, enviou nova carta ao Editor pedindo, desta vez, que a review fosse "temporariamente" retirada do site, até que tudo fosse esclarecido. O Editor, novamente em carta, sugeriu que a Autora postasse um comentário – o que era tecnicamente viável – no site, abaixo da crítica que, após moderação feita pelos editores, seria publicada. Cínica e ironicamente, sugeriu parcimônia da Autora na formulação do comentário. Ato contínuo, o editor pediu aos leitores que enviassem outras reviews tão ou mais críticas, para que ele pudesse, então, demonstrar que ela estava exagerando.  

Tudo bem, tudo bom. Até que o Editor foi intimado a comparecer a um Tribunal francês para responder pelo crime de injúria. A Autora se sentiu tao ofendida que, ato extremo, denunciou o Editor perante uma autoridade judicial francesa. A primeira audiência – uma mera formalidade processual – já ocorreu e a audiência „de verdade“ ocorrerá no dia 25 próximo.  

Como os meus dois leitores (oi, mãe! Oi, pai!) sabem, a professora israelense está errada. Absurdamente errada. Fez (e faz – até quando decidir levar adiante essa patacoada) papel ridículo, seja no mundo jurídico, seja no mundo acadêmico.  

Ora, em áreas nas quais as idéias não podem ser "cientificamente" comprovadas, como é o caso do direito, a troca e, principalmente e antes de tudo, a críticas das idéias é o motor que move o mundo. Pessoas sensíveis devem, agora mais do que nunca, ficar de fora desse mundinho mesquinho e pequeno. As que desejarem participar devem endurecer o casco. Apanhar – no sentido figurado, obviamente – faz parte e deve ser o objetivo de todo e qualquer acadêmico. Antes de ser uma ofensa é um elogio e a razão é claríssima: o revisor tomou seu tempo (sempre escasso) e leu o trabalho. Se achou uma merda, bom, aí o problema é dele. Mas, antes disso, é preciso lembrar que ele parou, sentou, leu, leu, leu, pensou novamente e, só então, sentou e escreveu que o trabalho era ruim, péssimo ou muito péssimo.  

Como disse, dou razão ao editor. Mas não deixo de ter certa simpatia com a professora israelense (mesmo achando o que ela fez uma besteira!) O problema, me parece, é que em um mundinho onde a pessoa passa anos, décadas, se dedicando a um assunto apenas, renunciando ao mundo que continua a girar, para escrever uma calhamaço de 500, 600, 1000 páginas, para depois ser chamada de burra, ignorante, desconhecedora, superficial etc, dói; e dói muito. Nem tanto pelo conteúdo do trabalho, mas por ver que todo aquele tempo gasto dentro de uma biblioteca nem sequer deu resultado... Pelo menos não a um dos resultados possíveis: o reconhecimento pelos pares. A frustração, neste caso aliada à uma sensibilidade exagerada, pode causar horrores como esse: uma mulher crescida se sentir ofendida – e levar isso até as últimas consequências – porque um outro professor disse que as idéias eram velhas e superficiais.  

Sorte que, ao contrário deles, eu gasto os meus dias aproveitando a vida e não enfurnado numa biblioteca qualquer....  

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Até o fim

Qualquer estudante sabe que deve ler o artigo até o final quando uma das primeiras referências é ao filme Desejo de Matar, do insuperável Charles Bronson:

"Ou, se a moral condena a execução privada de pessoas com predisposição à violência, mas não condena o uso de força mortal em legítima defesa, então é moralmente permitido que Charles Bronson caminhe pelo Central Park à noite com o único propósito de incitar pessoas com predisposição à violência a lhe atacar para que ele possa, então, mata-las em legítima defesa. (Nota de rodapé: Vide Desejo de Matar, Paramout, 1974)"

Larry Alexander, Is morality like the tax code? Michigan Law Review, 1997; 95(6):1839-1850, 1841.

[No original: Or, if morality condemns private execution of those disposed to violence but does not condemn the use of deadly force in self-defense, then it is morally permissible for Charles Bronson to walk in Central Park at night for the sole purpose of enticing violently disposed persons to attack him so that he can, in turn, kill them in self-defense. (See. Deathwish (Paramount, 1974)]

 

sábado, 5 de junho de 2010

Ridendo...

...castigat mores.

Tradução do brocardo: rindo castiga-se mais. Autoria, como sói, do Millôr Fernandes.