domingo, 31 de maio de 2009

O rio da minha Aldeia

Continuando na série:
O Neckar é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia, Mas o Neckar não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia Porque o Neckar não é o rio que corre pela minha aldeia.

O Neckar tem grandes navios E navega nele ainda, Para aqueles que vêem em tudo o que lá não está, A memória das naus. O Neckar desce da Floresta Negra E o Neckar entra no Reno. Toda a gente sabe isso. Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia E para onde ele vai E donde ele vem. E por isso porque pertence a menos gente, É mais livre e maior o rio da minha aldeia.

Pelo Neckar vai-se para o Mundo. Para além do Neckar há a França E a fortuna daqueles que a encontram. Ninguém nunca pensou no que há para além Do rio da minha aldeia.

O rio da minha aldeia não faz pensar em nada. Quem está ao pé dele está só ao pé dele.
Há dias em que eu preferia estar somente ao pé do rio da minha 'aldeia'. (*) O original, do Fernando Pessoa (Alberto Caiero). Triha sonora: John Denver - Take me home, country roads.

Auto-engano

Relendo o texto, vi que há uma boa dose de possibilidade de que o texto abaixo seja apenas uma forma de eu tentar me convencer que tudo isso não é uma grande perda de tempo... (*) Lembrei-me do livro do Eduardo Gianetti. Além de ser muito bom (e fácil) de ler, explica bem como esses processos mentais funcionam.

"Aproveitar a vida"

uns tempos tive uma discussão sobre as escolhas pessoais e como algumas delas nos levavam por caminhos complicados. Alguns de nós escolhem aproveitar a vida (essa foi a expressão usada por mim) enquanto outros escolhem caminhos menos 'atrativos' e que consomem boa parte da juventude e/ou do início da vida adulta. 


 As escolhas que eu fiz até agora nunca me ajudaram a 'aproveitar' a vida, pelo menos não do jeito que o senso comum acredita que seja a forma 'correta'. A piada que eu sempre faço é que em 50 anos, meus netos perguntarão para o "Vovô" o que ele fez na juventude e a resposta seria: "dos 7 aos 33 o vovô estudou". Querem vida menos 'aproveitada'?! 


 Claro que tudo que aconteceu na minha vida até agora foi uma conjunção de vários fatores, entre eles a sorte e a vontade de realizar planos e/ou sonhos que eu tenho há anos. Sempre tive o apoio das mais diferentes pessoas e, claro, apoio incondicional da minha extraordinária família. Engraçado que eles, que mais se preocupam comigo, nunca disseram para eu aproveitar a vida. A razão principal, até onde sei, é que lá em casa temos uma ética do trabalho muito forte. Coisas que Freud não explica, mas Max Weber(*) sim. 


Quando alguém me diz que eu deveria estar aproveitando a vida, eu sempre fico pensando qual a melhor forma para fazer isso. Festas?! Praia?! Claro que eu adoraria estar com meus amigos e com a minha família, sentado num bar, tomando cerveja e comendo churrasco todos os finais de semana. Hoje tenho muito mais vontade de estar sentado na grama, na beira do rio, tomando uma cerveja e lendo um livrinho bobo qualquer, no lugar de estar trancafiado, lendo um manual (chatíssimo!) de direito constitucional. Isso, quer me parecer, é, no senso comum, aproveitar a vida ao máximo. 


 O grande problema, acredito, é que para ser realizado e, claro, tentar realizar alguma coisa(**) alguns sacrifício são necessários. Abandonar as pessoas queridas por algum tempo, abrir mão de alguns divertimentos e passatempos, ignorar as realizações instantâneas e, acima de tudo, sacrificar uma grande parcela da vida pessoal. Vale a pena?! Não sei... Mas é algo que, caso eu não fizesse, em cinquenta anos olharia para trás e me arrependeria de ter não ter aproveitado a minha vida para fazer! 


Eu aproveito a vida?! Boa pergunta. Mas, em cinquenta anos, meu netos - tenho certeza - ouvirão outra resposta: 'O vovô aproveitou a vida da melhor forma que pôde'. 


(*) Max Weber foi um dos pais da sociologia. e, além de ter estudado por aqui, virou professor de 'Economia' alguns anos mais tarde. Como todos sabemos, ele enveredou por outros caminhos, até chegar a sua magnum opus 'Economia e Sociedade'. A referência é ao sensacional "A ética protestante e o 'espírito' do capitalismo". 
(**) Que fique muito claro: não tenho a pretensão de realizar nenhuma coisa grandiosa. O que me move, contudo, é a vontade de tentar realizar algo que possa, num micro-universo limitadíssimo, fazer alguma diferença.

sábado, 30 de maio de 2009

Virtus in medio constat honesta loco

Em relação ao que está escrito logo abaixo, hoje a 'perfeição' se instalou por essas bandas daqui. Acordei cedo e fui pro mesmo lugar de sempre. Enquanto eu permancia (e permaneço!) trancado, lá fora fazia (e ainda faz!) a - na minha modestíssima opinião - temperatura perfeita. Por isso, resolvi encurtar o dia hoje aqui na biblioteca e vou passear um pouco na beira do Neckar... Fui!

terça-feira, 26 de maio de 2009

Precipitado

Ontem tivemos 35 graus, sol o dia inteiro e, pra completar (o inferno), às 21.45 ainda estava claro. Hoje amanheceu chovendo, com a paisagem pintada de cinza e a temperatura estacionada nos 15 graus. Definitivamente, sou uma pessoa que prefere a precipitação cinza ao inferno ensolarado.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

21 anos

Viagem para Viena, companhia sensacional, cidade lindíssima, Sacher Torte com café e "com chuvas esparsas por todo o perímetro".
Fazendo o inescapável city tour descubro que a mais antiga Universidade de língua alemã não é a de Heidelberg. Começo a chorar compulsivamente. Como assim?! Depois dessa declaração de amor?! Pois bem. A Universidade de Viena foi fundada vinte e um anos antes. Em 1365 o Arquiduque Rodolfo IV, baseado no modelo da Sorbonne, fundou a Alma Mater Rudolphina Vindobonensis.
Hoje em dia a Universität Wien tem quase 75.000 estudantes, nas mais variadas áreas do conhecimento, dividos em 15 faculdades e mais de 180 cursos. Uma pequena curiosidade relacionada ao post anterior: depois de 532 anos de sua fundação, a Universidade de Viena aceitou a primeira mulher nos seus quadros discentes, corria o 1897. Dez anos depois a primeira professora. Se continuar nesse ritmo, creio eu, em 532 anos não haverá mais homens nas universidades. O que, ao fim e ao cabo, será uma coisa boa...

A melhor

Hoje o professor de direito constitucional devolveu o trabalho de férias dos alunos. Gritos, sorrisos, brigas e todo tipo de comentários entre os mais de 300 alunos da disciplina. Funciona assim: depois de cada semestre é fornecido um problema sobre o qual os alunos devem escrever um trabalho. É uma distração durante as férias para os que não querem fazer nada e, claro, uma trabalheira do cão para aqueles que querem escrever algo com qualidade. A primeira coisa que o professor fez foi ler o nome das três primeiras colocadas (as mulheres dando um banho no sexo forte). Além de elas explicarem para o resto dos 300 aluno(a)s como resolveram o problema, ainda foram presenteadas com livros muito bons e bastante caros. A que escreveu o melhor trabalho disse que passou as férias inteiras estudando e escrevendo o trabalho. Simples assim. Uma cadeira, uma mesa, uma luminária e os livros. As outras duas disseram que tiraram apenas uma semana de férias. Tudo para riso dos demais que as consideraram as maiores "perdedoras" em oposição, claro, a eles, os "legais". Em suma: premiou-se o mérito. Simples assim. Meritocracia no seu estado puro. Infelizmente não consigo vislumbrar isso no nosso cenário universitário. Na nossa sanha igualitária, de não distinguir o bom do ruim, do dedicado do preguiçoso, esquecemos que alguns são mais aptos. Alguns são, simplesmente, melhores e mais inteligentes. Mais capazes e mais bonitos. Mais dedicados e apegados. E isso não pode aparecer, sob pena de estar-se agindo contra o "princípio da igualdade". O problema é que é uma falácia que a igualdade mande tratar todos igualmente. O que ela realmente manda é tratar a todos igualmente, desde que o critério de tratamento e comparação seja o mesmo. Estudantes que tenham a sua disposição os mesmos livros e a mesma quantidade de tempo devem, necessariamente, ser comparados. Os melhores e/ou mais dedicados devem ser distinguidos dos demais. A meritocracia pode parecer injusta. Não é. Havendo condições em igualdade(*) não premiar o mérito constitui a verdadeira injustiça. (*)Claro que a definição de 'igualdade de condições' é muito mais complexa num país como o Brasil. Por aqui o nível médio é que todos dentro de uma universidade tenham condições semelhantes.

Writer's block

Passei um tempo viajando e outro tempo sem saco para escrever. Hoje [espero] voltamos com a programação normal da casa.

sábado, 9 de maio de 2009

Mote do dia

"We do what we have to do, in order to do what we want to do."

Diferenças

Quase todos as pessoas que estudam na biblioteca da Faculdade de direito trazem uma garrafa d'água consigo. Eu incorporei o costume e, quase sempre, trago uma garrafa d'água comigo. Hoje, infelizmente como se verá, esqueci minha garrafa d'água em casa. Depois de algumas horas sentado, já cansado, resolvi caminhar um pouco e tomar alguma coisa. Fui até o bar disposto a comprar uma garrafa d'água. Mudei de idéia e acabei comprando uma garrafa de Apfelschorle (uma mistura de suco de maça com água mineral com gás). Voltando para a biblioteca, fui parado pela menina que controla a entrada: "Com licença, o senhor não pode entrar com essa garrafa na biblioteca. Isso não é água." Espantado, a minha única reação foi um grunhido, algo como um "isso é a coisa mais absurda que eu já ouvi em toda a minha vida" resumido em apenas um som monosilábico. Ela ficou me encarando e repetiu a frase que ganharia o concurso mundial de frases óbvias 2009: "Isso não é água." Pensei em responder que a garrafa continha, no mínimo, 57% de água, como podia ler no rótulo. Contudo, olhei firme para o chão e, tomando cuidado para não xingar ninguém, caminhei calmamente até o corredor onde tomei minha garrafinha de suco de maça misturado com água mineral com gás. Para completar a bizarrice, ao passar novamente pela entrada, ela ficou olhando fixamente para os meus bolsos, como se eu pudesse esconder uma garrafa de um litro e meio dentro do bolso ou embaixo da camiseta. Agora já sei e devo esse ensinamento interiamente à menina da entrada da biblioteca: suco de maça com água mineral não é água!

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Testicular Cancer

No filme Clube da Luta o personagem do Edward Norton procura um grupo reabilitalação de homens que tiveram câncer de testículo. Tudo isso para se curar da insônia. Ele fica curado e, como todos sabem, extravassa todos os limites com seu alter-ego Tyler Durden... 


Hoje a insônia me pegou. 


Deitei, rolei pr'um lado, rolei pro outro e nada. Contei ovelhas, jacarés, pinguins e micos-leão-dourado. Até elefantes que não pulam eu fiz pular as mais altas cercas na tentativa de trazer o sono. Nada. Imaginei-me pulando uma cerca e, claro, enrosquei meu pé no arame farpado o que causou uma onda de excitação que levou o sono para outras paragens. 


Estou eu aqui, 5.05 da manhã, ouvindo os primeiros pássaros e há 6 horas tentando dormir. Impossível. Inviável. Tentei ler. Nem um bocejo. Peguei um livro sabidamente ruim e de leitura complicada. O cérebro manda mais um pouco de adrenalina em virtude da complexidade do texto. Tomei um copo de leite. Um pequeno bocejo que, num átimo, se transforma em espirro. Mordo a língua. Xingo toda a evolução humana por não ter prescindido de uma língua e, ato contínuo, digo adeus à qualquer possibilidade de sono. 


Agora, com um pouco de algodão na boca para estancar o sangue da língua, já preparo um chá e, mesmo que os olhos não aguentem, vou fazer um pouco de burocracia da pesquisa (olhar a bibliografia de outros livros e artigos e ver o que me interessa). Quem sabe, numa dessas noites insônes, eu não cruze pelo meu "Universo em Desencanto" que me traga a energia racional e ajude a começar com a tese. Na pior das hipóteses acho o endereço de um grupo de apoio para paciente com câncer de testículos. Na melhor, e com muita sorte, desmaio (sono, enfim!) em função da hipovolemia.