quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Frase da semana

"Se você regalar sua esposa com um caríssimo jantar no melhor restaurante da cidade na expectativa de conseguir uma noite de enlevos lúbricos, será descrito como um romântico incorrigível. Mas, se preferir simplificar as coisas e oferecer-lhe uma soma em moeda corrente para o mesmíssimo fim, só o que conseguirá é o divórcio e a reprovação de todos os seus familiares e amigos." Da coluna do (sempre) recomendado Hélio Schwartsman.

sábado, 7 de novembro de 2009

Expor e ser exposto

A história é antiga. O representante de um partido com posições extremas, nesse caso à direita, é convidado a participar de um programa de televisão para expor as suas idéias e, como sói, ser exposto ao rídiculo.

Com Nick Griffin não foi diferente. Aliás, com ele a segunda parte da afirmação acima foi cabalmente comprovada. Eleé o presidente do BNP (British National Party) e foi convidado a um dos talkshows mais importantes da BBC. Ombrando com ele, outros representantes de partidos políticos e uma escritora negra americana.


Do início ao fim foi um baile. Literalmente.


O sujeito começou afirmando que, se vivo, Winston Churchill faria parte do seu partido, dadas as suas convicções políticas e ideológicas. Foi confrontado com várias citações do bom e velho Churchill que o desmentiam. Confrontado com as suas próprias declarações, vergonhosamente saia pela tangente dizendo que aquilo havia sido adulterado pelo entrevistador. Confrontado por um negro, sobre as infinitas contribuições dos negros ao Reino Unido, aí incluídas todas as guerras nas quais ele foram obrigados a participar para defender a rainha, mais hesitação, mais contradições e, claro, mais um sorriso amarelo. A história se repetiu com os árabes da platéia. E com qualquer outra minoria que o partido do sujeito quer que volte ao seu país de origem. Na parte mais triste do combate, o sr. Nick Griffin, após ser confrontado por um judeu sobre as suas afirmações negando a Shoah, disse que havia mudado de idéia quanto aquilo. Mas não sabia dizer em que extensão e, pior, por quais razões. Ficou lá, com um sorriso amarelo, gaguejando, tentando desdizer o que havia dito, sem convicção alguma. Triste e patético, mas inexorável para qualquer pessoa que defende posições fundamentalistas desse gênero.



A única vez que a possibilidade de diálogo (sim, em termos bem amplos, eu sei) foi fechada foi quando ele foi confrontado pelo fato de ter relações com um dos cabeças de uma famosa organização racista americana. Ele argumentou que esse sujeito fazia parte de uma facção não violenta, que não queimava cruzes. A professora americana simplesmente disse que aquele era um terreno que ele não poderia pisar. E encerrou a discussão por ali. Por quê?!


Após o "debate", o sujeito gravou uma declaração choramingando, dizendo que tinha sido alvo de uma lynch mob e que recorreria a BBC para ter seu direito de resposta (?). Enfim, depois de ser exposto ao maior ridículo de sua vida, por sua própria culpa e sua inabilidade política-argumentativa, ele foi chorar num cantinho...


Qualquer tentativa de se proibir um sujeito desses de ir a um programa de televisão é contraproducente. Quando confrontados com as próprias barbaridades, somente um absoluto demente permanece impávido e mantem o que disse. Negar o Holocausto perante um menino que perdeu o avô é muito difícil, quase impossível, na hipótese de não se ser um sociopata.


E foi exatamente isso que aconteceu.
Idéia após idéia, uma pior que a outra, o Sr. Nick Griffin foi exposto ao ridículo das suas opiniões, ao vazio dos seus argumentos e, claro, a demência de se sequer pensar em defender qualquer uma daquelas posições. Uma entrevista dessas traz mais benefícios ao pessoal que expõe ao ridículo as posições defendias por estes extremistas do que qualquer proibição para que eles se manifestem.


Como refere o colunista do Die Zeit, num interessante artigo intitulado "Deve-se conversar com facistas?", seria um flagrante caso de censura caso fosse negada a possibilidade, do representante eleito de um partido, simplesmente porque suas idéias não são politicamente corretas. De fato, a liberdade de expressão deve ser garantida ao máximo. Sempre. Se o sujeito cometer algum tipo de crime no exercício dessa liberdade, que seja punido (severamente ou não) de acordo com os rigores da lei. Mas, aqui o ponto, sempre, ex post facto. Determinar antes do discurso o que pode ser dito em função da "political correctness" do conteúdo nada mais é do que censura. Países com tradição democrática centenária, como a Inglaterra, entendem isso. E é por essa razão que a BBC o convidou e, segundo consta, continará convidando, dado o súbito aumento dos índices de audiência.

Quem não entende isso é a multidão tosca e bovina que quis, por meio da violência, impedir o sujeito de entrar nos estúdios da BBC. Segundo algumas declarações, ele fazia apologia ao nazismo e, pior, era porta-voz de um hate speech (o conceito mais indeterminado que eu conheço!). Um chegou a afirmar que a BBC, dando voz e espaço ao sujeito, cometeria ela mesma (?) racism.

A resposta aos apelos da massa é apenas uma: não! E, claro, uma vez mais, não! A liberdade de expressão deve ser garantida a todos, independentemente de suas convicções e ideologia. Negar isso é negar a própria essência do Estado de direito que, felizmente, clama por essa pluralidade. Negar isso, aqui o ponto, é censurar previamente o que pode e o que não pode ser dito e sequer pensado. E, claro, quando é o guarda da esquina que decide isso, o buraco é bem mais embaixo...

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

So easy

Recebo a Newsletter do DAAD:

"Bolsa de pós-graduação em Berlim em novela da Globo

Entre uma bolsa de estudos na Alemanha e um pedido de casamento, com qual você ficaria? A personagem Tônia, interpretada por Marjorie Estiano, passou por esse dilema nos últimos capítulos da novela “Caminho das Índias”, de Glória Perez, na Rede Globo. A estudante de medicina recebeu a notícia de que ganhou uma bolsa de pós-graduação na Alemanha alguns dias depois de o namorado, o esquizofrênico Tarso (Bruno Gagliasso), a pedir em casamento. Em novela, o amor costuma ganhar todas. Já a caminho do aeroporto, a nova bolsista pede para o motorista do táxi parar e corre para os braços do amado. Na vida real, são raríssimos os selecionados que desistem de uma bolsa para estudar na Alemanha."
Além de namorar um esquizofrênico(?!), ela é bobinha. Se tivesse casado com o maluquinho, poderia vir e ainda ganharia mais uns 300 euros de auxílio-cônjuge.
O amor - e ela - sairiam ganhando.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Dois mil e nove anos

Nas primeiras discussões da faculdade, especialmente as que envolviam direito penal, sempre surgia a fatídica pergunta:
"E se alguem estuprasse a tua filha de cinco anos, hein? O que tu faria?"
Como bom cínico, sempre respondia que os direitos fundamentais deveriam ser observados, independentemente da situação. E, claro, dizia que o pai da infante estuprada não era o sujeito mais indicado a dar palpites sobre a pena do estuprador.
Parece que na terra do Mustafá, meu amigo, as coisas são um pouco diferentes. A pena lá, pelo visto, continua a mesma há dois mil e nove anos, quando surgiu o maior mártir da civilização.
E aí, Mustafá, e se alguém estuprasse a tua filha de cinco anos, o que tu faria, hein?! Resposta hipotética, porém extremamente provável: dura lex sed lex, caro Pedrinho. Mandaria aplicar a lei que manda decapitar e crucificar estrupadores... E dá-lhe relativismo cultural neles!

Click

Toby era feliz. E sabia.
Todos os dias ele seguia a mesma rotina. Acordava cedo, com os primeiros raios de sol. Caso estivesse nublado, dormia até mais tarde. Ele podia se dar esses pequenos prazeres. Haveria comida, mesmo que acordasse mais tarde. Logo após acordar, descia ao primeiro andar e começava sua busca incessante por comida. Sim, Toby era um morte de fome. Ele, há tempos, sucumbira ao pecado da gula. Mas o que podia ele fazer se tudo que ele encontrava lhe parecia tão apetitoso?! Nada, respondia a si mesmo. Aqueles dias solitários estavam sendo repletos de banquetes.
Mesmo embaixo de chuva, comida não faltava a Toby! A única coisa que lhe incomodava era aquela dúvida que persistia. Olhando pela janela, Toby conseguia ver seres estranhos, todos sentados, um a frente do outro, olhando para papéis, todos muito compenetrados, sem conversar entre si.
-Quem dera tivesse eu um companheiro aqui ao meu lado!, pensava Toby.
No verão a vida solitária não era tão ruim. Com o inverno se aproximando, uma companhia não faria mal, refletia Toby. Independentemente do que Toby pensava, aqueles seres estranhos continuavam ali, sentados, em silêncio, sem conversar entre si.
Hoje, infelizmente, havia amanhecido chovendo. Como Toby não havia conseguido se proteger das gotas que caiam do céu, acordou cedo. Continuou sua busca diária para satisfazer seu irrefreável apetite.
- De hoje não passa, decidiu Toby. Hoje eu vou chegar perto dessas criaturas estranhas, ultimou um decidido Toby.
Escolheu, escolheu e não conseguia se decidir. Todos olhavam para baixo e pareciam, de alguma forma, frustados com a vida. Toby chegou a conclusão de que todos aqueles seres estavam passando fome. Essa era a única explicação para que eles não conversassem entre si e, claro, não sorrissem uns para os outros. Continuou naquela indecisão por horas. Olhava para todos eles e não conseguia decidir com qual deles deveria fazer o contato inicial.
De repente, um deles começou a olhar para o lado e sorrir!
- É o sinal, pensou Toby. Hoje farei amizade com um desses estranhos!
Toby foi se aproximando, pensando no que dizer, no que falar primeiro, ou mesmo se deveria ser o primeiro a falar. Quando finalmente decidiu tomar a iniciativa, aquele ser estranho puxou um aparelinho ainda mais estranho e click...
(Na foto, Toby, meu fiel companheiro de biblioteca, sempre no entorno da nogueira do pátio)