sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Noites Insones...

Não durmo, nem espero dormir. Nem na morte espero dormir.

Espera-me uma insônia da largura dos astros, E um bocejo inútil do comprimento do mundo.

Não durmo; não posso ler quando acordo de noite, Não posso escrever quando acordo de noite, Não posso pensar quando acordo de noite — Meu Deus, nem posso sonhar quando acordo de noite!

Ah, o ópio de ser outra pessoa qualquer!

Não durmo, jazo, cadáver acordado, sentindo, E o meu sentimento é um pensamento vazio. Passam por mim, transtornadas, coisas que me sucederam — Todas aquelas de que me arrependo e me culpo; Passam por mim, transtornadas, coisas que me não sucederam — Todas aquelas de que me arrependo e me culpo; Passam por mim, transtornadas, coisas que não são nada, E até dessas me arrependo, me culpo, e não durmo.

Não tenho força para ter energia para acender um cigarro. Fito a parede fronteira do quarto como se fosse o universo. Lá fora há o silêncio dessa coisa toda. Um grande silêncio apavorante noutra ocasião qualquer, Noutra ocasião qualquer em que eu pudesse sentir.

Estou escrevendo versos realmente simpáticos — Versos a dizer que não tenho nada que dizer, Versos a teimar em dizer isso, Versos, versos, versos, versos, versos... Tantos versos... E a verdade toda, e a vida toda fora deles e de mim!

Tenho sono, não durmo, sinto e não sei em que sentir. Sou uma sensação sem pessoa correspondente, Uma abstração de autoconsciência sem de quê, Salvo o necessário para sentir consciência, Salvo — sei lá salvo o quê...

Não durmo. Não durmo. Não durmo. Que grande sono em toda a cabeça e em cima dos olhos e na alma! Que grande sono em tudo exceto no poder dormir!

Ó madrugada, tardas tanto... Vem... Vem, inutilmente, Trazer-me outro dia igual a este, a ser seguido por outra noite igual a esta... Vem trazer-me a alegria dessa esperança triste, Porque sempre és alegre, e sempre trazes esperança, Segundo a velha literatura das sensações.

Vem, traz a esperança, vem, traz a esperança. O meu cansaço entra pelo colchão dentro. Doem-me as costas de não estar deitado de lado. Se estivesse deitado de lado doíam-me as costas de estar deitado de lado. Vem, madrugada, chega!

Que horas são? Não sei. Não tenho energia para estender uma mão para o relógio, Não tenho energia para nada, para mais nada... Só para estes versos, escritos no dia seguinte. Sim, escritos no dia seguinte. Todos os versos são sempre escritos no dia seguinte.

Noite absoluta, sossego absoluto, lá fora. Paz em toda a Natureza. A Humanidade repousa e esquece as suas amarguras. Exatamente. A Humanidade esquece as suas alegrias e amarguras. Costuma dizer-se isto. A Humanidade esquece, sim, a Humanidade esquece, Mas mesmo acordada a Humanidade esquece. Exatamente. Mas não durmo.

Alvaro de Campos (F.P.)

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

A hard working...

... bon vivant.
O amor só é bom se doer...

sábado, 24 de outubro de 2009

Altruísmo, Caridade e Esmola com o próprio chapéu

Noticia o Tagesspiel de Berlin que um grupo de ricos, capiteneados por um médico alemão, resolveu fazer uma petição, a ser entregue para o Parlamento, no sentido de se criar um tributo sobre aqueles que tiverem mais de 500 mil euros em patrimônio. Segundo o autor da petição, (míseros) 5% sobre o patrimônio dos mais ricos poderia gerar uma receita extra para o Estado alemão que cobriria os buracos no orçamento. Segundo os dados do jornal, a Alemanha conta com mais de dois milhões e duzentas mil pessoas que se encaixariam no perfil e seriam tributadas, caso o novo tributo venha a ser criado e cobrado.

Até agora a petição tem (que surpresa!) 44 das possíveis 2,2 milhões de assinaturas. A pequena quantidade é nada mais do que óbvia. Um país cujo sistema tributário já é caótico, onde a tributação apenas pelo imposto de renda pode chegar – na faixa mais elevada - a 45% e cujos serviços públicos vão, paulatinamente, piorando de qualidade não tem grandes chances de emplacar um novo tributo sobre a propriedade dos ricos.

Fala-se, com estardalhaço, da “justiça social” desse tributo. Se os mais ricos têm mais patrimônio, logo devem pagar mais impostos. A afirmação é, em parte, verdadeira. Esquece-se, em grande medida, é que os ricos já pagam mais impostos do que os menos afortunados. Para cada euro em patrimônio, uma parte já é consumida por um tipo diferente de tributo. Obviamente que a idéia de se tributar os ricos não é nova. No Brasil, lembremos, houve a tentativa de se tributar as grandes fortunas. A previsão constitucional permanece lá (art. 153, VII CR/88). A lei complementar, mesmo em governos ditos de “esquerda” nunca foi aprovada. Roberto Campos , o maior liberal que o Brasil já teve, relata a sua tentativa de causar o menor mal possível, depois da apresentação de uma proposta quando ele ainda era senador. Para combater a “inevitável fuga das fortunas” ele apresentou emendas ao projeto de lei, criando um intrincadissimo sistema de deduções. Nas palavras do próprio (cito de cabeça, se estiver errado, peço perdão) “o capital é covarde como um cordeiro e veloz como uma lebre”.

De qualquer forma, as vantagens do um tal tributo não são tão claras. Com a mobilidade atual do patrimônio, há uma grande chance de que esses “ricos” com patrimônio simplesmente levem seus patrimônios a outras paragens, gerando ainda mais déficit para a economia local. Dentre tantos outros problemas, dois são os mais concretos: 1) um tributo dessa natureza desestimularia a poupança, mesmo em países como a Alemanha com forte tradição de poupadores, gerando efeitos negativos sobre o a capacidade de poupança e sua relação com o investimento e o desenvolvimento econômico e 2) o controle do que seria patrimônio acima de 500.000 euros seria extremamente complexo, com a necessidade de um considerável número de medidas para regulá-lo e fiscalizar a sua aplicação. O discurso contrário a um “imposto sobre o patrimonio dos ricos” obviamente soa antipático. Muito melhor é dizer “ricos paguem mais impostos!”. Nunca foi um dos meus objetivos ser simpático mesmo.

Mas, Pedrinho, como então se resolve o problema do orçamento alemão?! Com crescimento econômico, que gerará mais riqueza e, conseqüentemente, mais impostos serão arrecadados. Tributar os ricos é apenas a forma mais populista de aumentar (episodicamente) a arrecadação. Estranho, mesmo, é um dos ricos sugerindo a proposta. Será que ele quer aparecer? Querendo ou não aparecer, ele vai receber um e-mail meu. Se esse altruísmo todo for verdade, o meu orçamento no mês que vem será muito melhor!!!

(Na foto, o autor da proposta usando um charmoso [e caro!] cachecol vermelho: "Quem quer o me dinheiro?!, pergunta ele)

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Nostradamus

Sei que ja esta batido falar mal da seguranca no Rio de Janeiro e as consequencias disso para as futuras Olimpiadas de 2016. No lugar disso vou fazer uma previsao. Sim, previsao. Ja podem juntar suas reservas e correr para as apostas. Dinheiro facil e garantido! Com 106,45% de certeza uma das medalhas olimpicas nas novas provas*- incluidas especialmente para o Rio 2016 - ira para um grupo de gauchos (atualmente ainda gauchinhos). Com certeza absoluta. * O nome da nova prova ainda esta para ser decidido pelo COI em conjunto com o COB. Dou a minha sugestao: "Aviao (ou Vapor) a distancia".

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

A felicidade

Sempre fui um sujeito que se contenta com pouco. Qualquer coisa me agrada. Os que me conhecem de verdade sabem que eu me divirto com qualquer piada de portugues e de papagaio. Pouquíssimo mesmo. O exemplo mais claro de felicidade instântanea veio hoje à noite. Depois de um dia, não como todos os outros, aceitei o convite de um amigo alemao e fui tomar uma cerveja. Ficamos em torno de uma hora e meia no bar, jogando conversa fora, como convem. Na saída do bar um dos alemães pergunta para o outro: "Onde tu estacionou?", usando um determinado verbo. O outro, imediatamente, e seguindo seus institntos germânicos, corrigiu o amigo afirmando - rispidamente - que ele havia usado o verbo errado. A partir de então não mais consegui segurar minha felicidade e um risinho de canto de boca. Os outros germânico-hablantes se intrometeram e uma pequena roda sobre a gramatica alema se iniciou. A discussao, de um lado, focava no fato de estacionar ser um verbo que exige o "sein" por se tratar de um movimento. Os outros afirmavam que estacionar nao se tratava de um movimento, mas de uma localizacao fixa do automovel, logo devendo o verbo "haben" ser o auxiliar. Assim ficamos por uns 5 minutos. Eu ouvindo a tudo, feliz da vida. Ainda tive a coragem de me intrometer para frisar que os verbos ficar (bleiben) e estar de pe (stehen) exigem o auxiliar "sein" mesmo nao se tratando de movimento. Excecoes, excecoes, gritaram os mais aflitos.
Na minha cabeca, apenas um pensamento dominava: como assim??? Sete alemães (sendo que destes, 4 sao germanistas, isto e, estudam a lingua alema) não conseguem chegar a conclusão se o verbo estacionar (parken, um óbvio anglicismo do verbo to park) deve ser usado em conjuntocom o auxiliar ser ou estar?! Que maravilha! Depois de resolvido que nao se chegaria a uma resposta correta, me despedi dos alemaes e, com aquele bom e velho risinho de satisfacao cortando a face, vim para casa, feliz, lesto e faceiro!

sábado, 17 de outubro de 2009

Cidade maravilhosa...

...cheia de encantos mil, cidade maravilhosa, coração do meu Brasil. Mesmo atrasado, gostaria de dar meus parabéns a todos os envolvidos na conquista do Rio como cidade sede das Olimpíadas de 2016. Especialmente esses caras aqui. Enquanto isso, no mundo real:

Guerra do tráfico mata 5, fere 8, queima ônibus e leva pânico a bairros do Rio.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Global Freezing

Seguindo conselho do bom e velho Noel Rosa, perguntei ao Weather Channel "com que roupa?" eu deveria sair de casa hoje, logo cedo, para ir para a academia. Qual nao foi a minha surpresa ao ver isso aqui:
O frio chegou, espero, para ficar! E o melhor de tudo e, claro, pior pro Al Gore e pro pessoal do IPCC, e´ que ainda faltam alguns dias para sairmos do horario de verao!
Trilha sonora, como parece claro, aqui.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Profecia e Política

A escolha é, no mínimo, questionável, escreveu o Süddeutsche Zeitung (SZ). Obama representa a escolha, não de um Prêmio Nobel da Paz, mas de um Messias. Logo agora, depois desse sketch verdadeiro e constrangedor do Saturday Night Live?! Pois é, ah, pois é...
Obama, até agora, segundo o SNL, não fez muita coisa. Guantanamo Bay continua Guantanamo Bay. As eleições no Afeganistão foram um arremedo de democracia. O Iraque continua ocupado. O Irã continua com seu programa nuclear pacífico. As técnicas qualificadas de interrogatório continuam sendo utilizadas. A Coréia do Norte continua testando mísseis. O oriente médio continua lá. E Obama?! Ele não. Ele luta pela paz e, segundo o pessoal da Suécia, já chegou lá. Yes, he can! Além de já ter uma boa poupança advinda dos copyrights de suas duas autobiografias (escritas antes do 50!), agora ele conta com mais dez milhões de coroas suecas (o dinheiro mesmo, não as senhoras bem conservadas. Rá!) O SZ afirma que a escoolha de Obama para o Nobel da Paz indica uma opção messiânica do Comitê e não, como deveria ser, uma escolha baseada em atos e condutas concretas que favorecem - ou favoreceram - a paz ao redor do globo. Havia, segundo consta, outros 204 candidatos para receber a distinção. Obama, o escolhido, é o primeiro presidente americano a receber o prêmio quando ainda cumprindo o mandato. Bom pra ele! E pra nós?! Sinceramente acho que não muda rigorosamente nada. Aliás, quem ganhou mesmo ano passado?! Hmm... Claro, foi Martti Ahtisaari, finlandês, que muito ajudou em conflitos internacionais, informa-me a wikipedia. Há, claro, o famoso Nobel da Paz para Henry Kissinger e Le Cug Tho (que recusou), que, após levarem dois países a uma guerra de quase quinze anos, celebraram a paz em Paris. Sim, cria-se o problema e, voilà, é-se condecorado por acabar com o problema criado anteriormente. Vá lá, pelo menos a paz voltou. O grande problema, informa o jornal, é que "profecia é coisa da religião e não da política. Por isso o Prêmio Nobel a Barack Obama é ainda uma decisão difícil de compreender" continua o jornal. O jornal levanta a hipótese de ele não conseguir fazer nada de mais pela paz. E daí, o prêmio (e a grana) já é dele! O resto, agora, é profecia e esperança. Obama é o Nobel da Paz para o futuro. É isso. Ele levou o prêmio adiantado. Enquanto outros dedicaram suas vidas à paz, ele ainda tem tempo para fazê-lo. E agora com uma graninha a mais no bolso. A reportagem acaba assim: "Para o presidente o prêmio não fará muita diferença. E para o prêmio em si? Ele vai acabar degenerando em algo sem importância. Um evento no calendário anual dos profetas." Para o ano que vem, meu voto vai para o Inri Cristo! Meu Paaaaai!!! * Trilha sonora do post, como não poderia deixar de ser, aqui: uma mistura equilibrada entre Richard Wagner e o cheiro de napalm pela manhã. ** Já sei até como será o sorriso dele quando receber o prêmio...

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Bêbado, não grite. Por favor!

dias as janelas da rua onde eu moro apareceram cobertas com lençóis e roupas de dormir. É uma forma de manifestação dos moradores: a barulheira dos bêbados está incomodando o sono alheio.

Como todos sabem, cada cidade tem o seu "bobódromo". Aquela rua onde todos vão para ver e serem vistos. Aqui, a rua mais movimentada da cidade durante a noite, que leva o sugestivo nome de Rua de Baixo, dista 50 metros da minha rua, a Rua dos Três Reis Magos (pois é...). Boa parte das pessoas que saem das festas passa por aqui no seu caminho pra casa. A conseqüência (como sempre!) é inevitável: necessidades fisiológicas (número 1, na maioria das vezes) por toda a rua, gritos, berros, conversas, garrafas quebradas no chão, mais gritos e, ontem, uma briga de namorados (ambos com ‘o’ no final). Enfim, confusão mais confusão.

Os moradores resolveram se unir e mostrar sua indignação pendurando lençóis com inscrições infames: “Barulho, urina e sujeira fora!”; “Nós precisamos de sono”; “O centro histórico está sem futuro”. O meu (querido e insubstituível) locatário resolveu, para desespero dos compositores, fazer um péssimo trocadilho com uma conhecida canção e escreveu: “Eu perdi meu sono em Heidelberg”*.

A conseqüência direta foi que a rua ficou mais feia. No lugar de prédios históricos bem conservados, agora, sou obrigado a olhar para lençóis velhos e camisolas ridículas. Há, inclusive, uma ceroula (sim, sim) pendurada.

A segunda conseqüência foi indireta: pense no que se precisa fazer para que um bêbado não grite? Ficar em silêncio e torcer para que ele não grite, certo?! Pois então. E o que fazer para ele começar a gritar como um alucinado? Acertou quem disse: “pendurar lençóis e camisolas pedindo silêncio!” Todos os bêbados que antes deixavam apenas as suas “marcas de urina”, agora resolvem desejar um “bom sonho” aos moradores que querem dormir. Ontem mesmo, depois de acordar no meio da noite, escuto um: “Durmam bem, moradores que não conseguem dormir” gritado a todo pulmão. Aquilo não era um desejo altruístico, era uma declaração de guerra! Claro, a ironia do bêbado (muito provavelmente não intencional!) é, para dizer o mínimo, s-e-n-s-a-c-i-o-n-a-l!!

Ironias e efeitos colaterais deixados de lado, hoje, quinta-feira, quero ver como será. Já estou com meus medos de que será mais uma noite com desejos de boa noite gritados à toda potência. Se for, tudo bem. Eu durmo mesmo assim. Fico com pena, mesmo, é das velhinhas que estão tendo que dormir sem as suas camisolas azul-bebê...

* A famosa canção diz: “Perdi meu coração em Heidelberg” e pode ser escutada, com fotos da cidade, aqui.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Lies, Lies, Lies, oh lies

Para relaxar...

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Quero ser proxeneta!

Um pouco de non sense português.
Quero ser cá em Coimbra, pra poder dormir na minha cama.
Se não acertei não conta. É como se não tivesse atirado nada. Não. O que conta é acertar, que aleija.

domingo, 4 de outubro de 2009

Gabriel Humbert Márquez

Depois que li isso aqui, me peguei pensando o que os diretores dessa ONG faria se vivesse ao tempo da publicação de Lolita. Imagine a cena: um sujeito, passado dos quarenta, casa com uma moça "só" por que ela tem um filhota de 12. A mulher morre, com a "ajuda" do sujeito e ele pega a moça e se vai, ficando cada vez mais, para usar um eufemismo, próximo dela. Dá mesada em troca de "favores" e, ato contínuo, rouba o dinehiro. Dolores é o nome da moçoila. Idade: 12 anos. Ficção?! Ficção. É a imaginação de um Nabokov derramada em papel. Sem a genialidade de um Nabokov, só me resta ficar cá imaginando como seria se essa ONG existisse ao tempo da publicação de Lolita.
A arte tem limites?! Obviamente que sim. Pode fazer apologia a alguma coisa ilícita?! Boa pergunta. Ninguém, à exceção de quem tem uma mente psicologicamente deturpada, vai sair a ter casos com meninas de 12 anos depois de ler Nabokov. Da mesma forma, nenhum velho de 90 anos vai sair a procurar prostitutas virgens (oxímoro?!) de 14 anos na selva colombiana...
A arte tem limites?! Obviamente que sim. Respeitar o sistema legal do país onde a obra for publicada é uma necessidade. Ah, é?! E "Versos Satânicos" não violou o sistema legal de vários países?! Claro que sim... Mas esse tipo de "violação da legislação" é o objetivo mesmo da arte. E é aqui que entra a sua real e promordial importância: ela é que a alavanca de contestação; ela que serve como motor de provocação; ela que define novos limites do permitido; é ela que faz uma sociedade dormente acordar; é ela, enfim, que rompe com o que está aí e tenta trazer algo novo para a mesa. Ao fazer isso, obviamente, abusos ocorrem. É do jogo e, diria até, são necessários. Os abusos têm de ser controlados, pelos meios institucionais adequados. Mas, tenho rigorosa, total e absoluta certeza que coibir eventuais abusos é muito, infinitamente, melhor do que ter que ouvir alguma ONG qualquer a dizer o que pode e o que não pode ser lido, publicado, escrito, esculpido, pintado... Enfim, um mundo com Lolita's, Memórias de minhas Putas Tristes, Casa dos Budas Ditosos, A Cor Púrpura, Carlos Zéfiro, Hustler's e Playboy's (a lista é longa...) é um mundo infinitamente melhor do que esse que a ONG quer nos enfiar goela abaixo.

sábado, 3 de outubro de 2009

Maldição Olímpica

Lembrei de um texto antigo, publicado na Folha Online, escrito pelo Hélio Schwartsman (recomendadíssimo!), sobre o Pan de 2007. Se trocarmos a palavra Pan (e seus correlatos) por Olimpíadas (e seus correlatos), temos um belo resumo:
Entregando o Ouro Hélio Schwartsman

Deus é testemunha de que não tenho nada contra o esporte. Além de matar e morrer pelo Corinthians, gosto de ver as atletas da ginástica olímpica se estatelando contra o solo e até dou minhas corridinhas. De vez em quando, encaro os 42 km de uma maratona. Não é, portanto, por sedentarismo militante que dedico esta coluna a vilipendiar o Pan.

Minha preocupação é principalmente de ordem econômica. Em 2002, quando da candidatura do Rio de Janeiro a sede dos jogos, o Comitê Olímpico Brasileiro estimou o total de gastos em R$ 414 milhões (valores já corrigidos pela inflação), a maior parte bancada pela prefeitura. Cerca de 20% dos recursos viriam da iniciativa privada. Ao fim e ao cabo, a brincadeira saiu por R$ 3,7 bilhões, mais da metade proveniente das burras federais. Praticamente nada veio de empresas particulares.

Tudo bem. Obtivemos 54 medalhas de ouro, nossa melhor participação em Pans e quase superamos os comunistas ateus caribenhos. Com todo respeito aos atletas que se esforçaram para conseguir suas auricomendas, R$ 69 milhões para cada medalha dourada parece-me um preço exagerado.

Se tudo não passasse de incompetência para planejar eu não estaria sendo tão severo com os organizadores torneio continental. O meu receio é justamente o de que esse pessoal seja muito competente numa outra modalidade, que não está catalogada no rol olímpico, mas no Código Penal. Como explicar, por exemplo, que a reforma do Maracanã, orçada em 2005 em R$ 75 milhões, tenha consumido R$ 294 milhões? É mais que o suficiente para erguer novos e moderníssimos estádios. O de Leipzig, usado na Copa da Alemanha de 2006, saiu por R$ 244 milhões. O de Seogwipo, na Coréia do Sul, edificado para a Copa de 2002, ficou em R$ 203 milhões.

Se essa dinheirama pelo menos revertesse em ganhos permanentes para a cidade do Rio de Janeiro, eu não estaria sendo tão ranzinza. Não é, infelizmente, o caso. Dessa novela toda, só o que deverá ficar são alguns novos equipamentos esportivos e a vila olímpica, que ninguém sabe exatamente para que servirá. R$ 3,7 bilhões é um preço extorsivo para tão pouco. E que não venham as autoridades alegar que foram surpreendidas pelo baixo retorno. Economistas já até criaram o termo "maldição olímpica" para referir-se às cidades que despendem rios de dinheiro para sediar megacompetições esportivas e depois ficam a ver navios.

Se as autoridades tivessem um mínimo de respeito pelo contribuinte estariam fazendo tudo para evitar que o Brasil venha a ser escolhido para sediar a Copa de 2014 ou os Jogos Olímpicos de 2016. Aí, os R$ 3,7 bilhões agora torrados virariam uma brincadeira de crianças. [os gastos estimados para o Rio 2016 são da ordem de trinta bilhões de reais! Coloca mais os 25% da Lei de Licitações e bola pra frente...]

E, já que estou embalado nas críticas ao Pan, examinemos outros aspectos negativos do evento. Incomoda-me sobremaneira os incontidos brios nacionalistas que os jogos despertaram. Não estou, evidentemente, sugerindo que deveríamos torcer pela Argentina quando ela enfrenta o Brasil. Mas há uma diferença entre incentivar de forma saudável equipes e atletas do país e vaiar os competidores estrangeiros, o que viola o chamado espírito olímpico além de todas as regras da hospitalidade e da boa educação. A única vantagem desse comportamento é que ele torna mais remota a possibilidade de que o Rio de Janeiro venha um dia a sediar Jogos Olímpicos, pelo que os cofres públicos agradecem.

(...)

Pensando melhor, talvez o problema não esteja nos gastos absurdos e totalmente fora do planejamento, nem na imbecilidade do nacionalismo e nem mesmo nas regras sem pé nem cabeça do COI. Quanto mais escrevo, mais me convenço de que o problema sou eu. Já deveria ter aprendido que é bobagem cobrar racionalidade do ser humano.

A África do Sul como metáfora do Brasil

Depois de saber que os investimentos para a Olimpíada do Rio seriam da ordem de quase R$30.000.000.000 (trinta bilhões de reais), segui o conselho daquele hit, joguei no Google as palavras "corrupção" + Africa do Sul + Copa + 2010 e, como suspeitava, pimba! Uma delas: "O presidente do Comitê Organizador da Copa do Mundo de 2010, Danny Jordaan, admitiu hoje que os gastos para organizar o evento serão maiores do que o previsto inicialmente. A conta, que será integralmente paga pelo governo da África do Sul..." A mesma pesquisa em inglês, traz quase 10 vezes (!) mais resultados O primeiro: "South Africa's 2010 World Cup soccer tournament is a prime target for corruption..." Pensei em pesquisar nas outras dez línguas oficiais do país, mas o meu SeSotho do Norte está um pouco enferrujado. e os resultados em ShiTsonga estavam um pouco confusos. Claro que o Brasil não é a África do Sul, mas, aposto o meu holerite todinho que, em aproximadamente uns 5 anos, as mesmas reportagens serão encontradas com estes termos aqui: Rio + Olimpíadas + 2016 + corrupção. Como diria aquele famoso apresentador: quem quer (perder) dinheiro?!

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Leave the gun, take the cannoli

Como o pós-operatório consistia, basicamente, em ficar deitado, pude fazer uma coisa que, há anos, quiça décadas, eu ansiava por fazer: assistir ao The Godfather. Sim, a trilogia completa. Sim, quase 10 horas de filme. Sim, vale a pena*. Vale muito a pena!**
* No Poderoso Chefão II, a única coisa, digamos, complicada (na falta de melhor palavra) é a absoluta glorificação da revolução de 1959 e a caracterização da ilha como um enorme, gigantesco mesmo, prostíbulo e antro de corrupção antes de Sierra Maestra. Hollywood, 1974: As circunstâncias históricas explicam. ** Na última parte da trilogia, o que chama atenção é imagem de ua Igreja Católica corrupta e materialista. Como dizia um professor amigo meu, "bater na Igreja é fácil". A crítica é válida, o problema é o exagero...

Es ist Deutschland hier

Dias atrás o chefe do partido que mais cresceu nas últimas eleições alemãs, - o sugestivo FDP, no meio de uma entrevista coletiva, ao ser perguntado, por um repórter da BBC de Londres, se a pergunta e a resposta poderiam ser em inglês, respondeu, com uma cara não muito amistosa: "aqui é Alemanha". Confira comigo no replay:
Duas reações ocorreram: a primeira dos, digamos, puristas da língua, que ovacionaram a reação do político, ao frisar que, "como na Inglaterra é necessário falar inglês, na Alemanha é necessário que se fale alemão." Do outro lado estão aqueles que o criticaram, por um motivo em especial. O senhor, que não quis "falar inglês em público" está cotado para ser o próximo ministro das Relações Exteriores da Alemanha. Diante disso, argumentam os críticos, falar inglês é uma necessidade. E, ele como cotado ao cargo, deveria ter esbanjado fluência para comprovar a capacidade. Eu?! Pra mim tanto faz... Mas, confesso, dá gosto de ver alguém dizendo que é necessário falar alemão na Alemanha. Explico-me: longe de mim de pregar aquele anti-americanismo (ou anti-anglicismo) bobo, de que os EUA são o demônio do mundo e que tudo de ruim tem início com pessoas que falam inglês por língua-mãe, como bem dissecou o Revel no Obsessão Antiamericana. Mas, dias atrás, ao ir no Starbucks (imperialismo cultural? Not!!) comprar um café, um americano xingou até a mãe da atendente pelo simples motivo de que ela, "mesmo trabalhando numa empresa americana, não entendia um simples pedido". E, bufando, saiu chutando a porta e gritando: "Biátch"! (Fato curioso: rapper ele não era. Aliás, era mais branco que o Eminem e eu juntos. O "biátch", acredito, era uma licença poética para não causar problemas...) Se a menina tivesse presença de espírito, deveria ter respondido: "Es ist Deutschland hier". E, claro, que o Starbucks é uma franquia.

Tough call

O que é melhor: usar um biquini minúsculo de uma marca desconhecida, comprado na 25 de Março por R$4,99, ou uma burqa da Gucci?