quinta-feira, 6 de maio de 2010

Foi só toda. Todinha.

dias passei por uma livraria de livros velhos. Não era um sebo, já que não se trata de livros usados. São livros novos, ainda não lidos, mas velhos. Que ninguém quer mais. Como ninguém os quer, são mais baratos. Logo, sendo mais baratos e niguém os querendo, eu compro.

Numa estante fiquei parado por mais ou menos uns 15 minutos, folheando três livros:  

- 1001 Lugares para se conhecer antes de morrer

- 1001 livros para ler antes de morrer

- 1001 álbuns para escutar antes de morrer

Minha perplexidade não foi por tudo que não visitei, li ou ouvi. Foi antes pela absoluta impossibilidade de fazê-lo a contento.

Tirando a pátria amada Passo Fundo, não posso dizer que conheço alguma oura cidade. Vivi em algumas outras, mas não as conheço. Não o suficiente para dizer se vale a pena ser conhecidano sentido forteou apenas visitada. Terminologias bobas à parte, conhecer 1001 lugares, nos diferentes continentes, não me parece algo realizável. Para além de questões temporais e financeiras. Quem se interessa por Paris – a maioriajamais vai se interessar por Bora-Bora. Quem se sente em casa nas Antilhas Holandesas, vai se horrorizar com Frankfurt. Quem gosta de Tóquio, não quer nem saber de Nairóbi. Quem gosta de Amsterdam pelos motivos certos vai detestar a Tailândia.   

De qualquer forma, dou de barato que alguém queira mesmo conhecer as 1001 localidades que o livro apresenta: some-se alguns dias de preparação, algumas horas de avião, mais algumas horas de aclimatação, um-dois dias para os passeios: temos uma semana, isso sem contar o retorno à vida normal. 1001 lugares =1001 semanas. se foram 20 anos, apenas conhecendo lugares novos.

Com 20 anos ocupados viajando, sobram alguns anos para os livros. 1001 livros para ler antes de morrer. E quem não gosta de ler? Tome-se, uma vez mais, de barato que a leitura é prazer para todos. Em quanto tempo se um livro? Por baixo, algumas horas. Por cima e no limite, alguns anos. Alguns livros sugeridos não consomem nem um dia, quando tanto algumas horas. Outros, pelo contrário, exigem dias, semanas e meses. Don Quijote em uma semana? Impossível. Crime e Castigo? Idem. Macbeth? Eu, limitado como sou, demorei um semestre inteiro. A Montanha Mágica? Comecei sete anos e ainda não acabei. (Pergunta: o Tratado de Direito Privado do Pontes de Miranda e a Barsa contam como um livro ?!?!*) Deixemos a média de 1 por semana. 1001 livros = 1001 semanas. se foram outros vinte anos.

Pior mesmo são aqueles que não constam da lista. Quanto tempo se leva para ler, realmente, Os Donos do Poder do Raymundo Faoro? Eu comecei e, infelizmente, nunca terminei. Um dia eu chego . E Paideia, do W. Jaeger? Eu comecei e, felizmente, não pretendo terminar.

E os 1001 discos? Coloquemos a média de 1 hora por disco. Temos 1001 horas. Chegamos à modesta soma de 6 semanas. Barbardinha, certo?! Até pode ser. Isso se nos sobrar tempo entre uma leitura e outra e, obviamente, entre as viagens. Afinal, quem quer escutar a Quinta Sinfonia de Beethoven com o barulho de uma turbina de avião na orelha... Melhor mesmo é ouvir a versao de My Way do Sid Vicious.

O que fazer? Eu sugiro conhecer 11 lugares bons e dos quais se goste muito. Como Paris. Ou Veneza. Ou Berlin. Ou Praga. Ou Londres. E, obviamente, Passo Fundo. E, nesses lugares, deve-se ler os 11 melhores livros (aqui a lista é absurdamente pessoal), escutando os 11 discos ou, quiça, as 11 músicas (três deveriam estar na lista de todo mundo: Gaúcho de Passo Fundo, do Teixeirinha,  briga feia entre Claire de Lune e Quarteto para cordas, andantin doucement expressif, do Debussy e Air auf der G-Saite, do Bach).  

Pedrinho, seu burro, a solução é fazer tudo junto ao mesmo tempo e misturado!, diriam os mais afoitos.

Eu, também afoitamente, respondo: e não é isso que todos nós fazemos?

Atualmente, coitadinhas!, até as crianças... 

(*) Essa pergunta me lembra o sketch do Bruno Aleixo  onde ele pergunta ao entrevistado quanto ele tinha lido na vida. O próprio Bruno sai com uma resposta genial: “Eu li mais de mil coisas. Mas atenção!, coisas inclui livros. E eu já li um dicionário. Nao estou a contar menu de restaurantes e  sms, como tu. E sabe quanto eu li da Enciclopédia Luso-Brasileira? Foi toda. Todinha. Na verdade li até o T.”