... nor is it a conservative movie.
Publiquei isso na discussão iniciada
por um amigo no Facebook, mas repito aqui só por não ter nada melhor pra
escrever. Fiz algumas modificações, mas nada que mude o espírito ou os
argumentos que empreguei por lá. Enfim, cheguei bem atrasado ao debate sobre o
conservadorismo ou reacionarismo do Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge,
já que só ontem consegui assistir ao filme. O bom é que esse comentário se
perde na miríade de comentários do Facebook (bem como na miríade de baboseiras
que se escreve em blogs absurdos e irrelevantes como este!).
Com todas as venias e devidas venias
e concessas venias, acho que essa leitura de que o filme nada mais é do que um
libelo contra os movimentos occupies ao redor do mundo, ou contra a "revolução
comunista", é simplista demais, para não dizer simplória e simplificante
demais.
(Aviso: há spoilers)
O Nolan, me parece, quis fazer uma
versão cinematográfica do A Tale of TwoCities do Dickens. Isso fica absolutamente claro quando o comissário Gordon lê um parágrafo sensacional do livro no
meio do filme. E acho – sinceramente - que o diretor atingiu o seu objetivo. Sem
entrar em discussões sobre o livro em si, ou quanta similaridade há entre o filme
e o livro, vemos que não há, por motivos óbvios, tanto drama nos tribunais
revolucionários (apesar de que condenar alguém a morte com a pena de exílio é
simbolicamente excelente), e com personagens mais redondinhos e nem tão
unidirecionais como no romance. Enfim, Nolan pegou um ótimo romance, colocou
máscaras nos protagonistas, uma bomba atômica, uns carros voadores e filmou um
dos livros mais importantes da literatura ocidental.
O Batman está mais lúgubre do que
nunca. Chega, em certos momentos, a ser o anti-herói. Bane, bom, ele nem
consegue ser o anti-herói. Ele é o anti-anti-herói. É um idiota manipulado. Um
coitado que não sabe nem o porquê de estar fazendo tudo aquilo. A vingança que
ele busca nem dele é. Consegue imaginar a ridicularia que é começar uma revolução
para atingir os objetivos de uma terceira pessoa? Doar a própria vida para
realizar sonho alheio? O quão patético é isso? Bane, aliás, não é digno nem de
pena, só de compaixão. É um sujeito que vive com dor ou dopado. Se bobear, os
dois. E ao dizer "I'm Gotham's reckoning" ele fica invariavelmente com
jeitão de profeta de terceira categoria. Uma pergunta aos que acham o filme reacionário: deve-se dar armas aos que foram presos injustamente? Ou deve dar-lhes a liberdade e uma indenização?
Bane, por sinal, é a própria negação
desses movimentos occupies, que supostamente são criticados no filme: ele
personifica o dirigente que manda e centraliza, enquanto tais movimentos se
querem horizontais e pulverizados. Ele fixa metas e dita os objetivos, enquanto
os movimentos são – em tese – multipolarizados... Pode-se fazer o que quiser -
como ele diz na cena da prisão - mas desde que isso esteja de acordo com o
plano dele (melhor: plano da Miranda/Talia). Tanto é assim que a Cat Woman faz
o que ela quer (Do as you please ele diz) e ele tenta matar a
coitadinha já que ela não se encaixa no plano...
Além do mais, quer me parecer, o
Nolan, em duas cenas, deixa claríssimo que ele está do outro lado, do lado dos
"occupants": quando Bane lê a carta em frente da prisão, dizendo que
aqueles homens estão presos em funcao de um "false idol" (o que é uma
verdade, aliás, foi criado o Harvey Dent-Day!!) e, depois, na cena com o ônibus
cheio de crianças querendo atravessar, toma o lado dos que lutam contra a opressão
policial. Não é possível, tendo sentimentos, ficar ao lado daqueles que querem
"cumprir as ordens" não deixando crianças pré-escolares passarem.
Aqui, e o Nolan deixa isso claríssimo, o sistema está mal sintonizado e isso
acarretará uma injustiça extrema.
O filme pode ser considerado
conservador?
Até pode ser, mas ele não é tão simples e infantil que permita uma leitura final e acabada. Há nuances
enormes que possibilitam aberturas interpretativas.
Mas, talvez, estejamos apenas lendo
demais num simples pedaço de entretenimento. Aliás, duas horas e meia do entretenimento
da mais alta qualidade.