terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

2 histórias e uma confissão ou São Paulo, Catmandu



Dias atrás, tentando fazer um agrado, mandei um pacote ao Brasil. Calculei as datas para que ele chegasse exatamente no dia em que eu deveria estar no Brasil, mas, como todos sabem, não seria possível estar. Confuso, não?! 
Enfim, calculei tudo, dirigi-me ao posto dos Correios e, em rápida conversa com a simpática senhora que me atendeu, fiquei sabendo que o meu planejamento todo não me concederia segurança de que o pacote seria entregue na data que eu gostaria. Indaguei, obviamente, o porquê. "A razão", disse-me ela com aquele olhar de quem fala com um índio com a cara pintada, "é que nao podemos garantir que o Correio do país do destino cumpra a sua parte. Aqui nós garantimos que em dois dias úteis seu pacote já estará a bordo do avião cargueiro com destino ao seu país. Chegando lá, nao temos mais controle sobre isso."
Ato contínuo, me entregou um folder com as informações abaixo: 

Vê-se que o Brasil, mesmo com toda a propagando de ser o país do presente, onde tudo funciona, as coisas só melhoram, todos são felizes o tempo todo, etc., etc., etc.,  perde para países que, além de maior distância geográfica, têm menos relevância política, econômica e sentimental (na falta de melhor palavra). 
Ganhamos de apenas um país: China. Isso é bom? Pode até ser, mas não nos esqueçamos que perdemos para "potências" como Cazaquistão, Togo,  Malásia, Singapura, Namíbia, Paquistão e Nigéria. Suprema derrota para os hermanos. Empatamos com os nepaleses. 
Há tempos que se discute sobre a manutenção do monopólio dos Correios no Brasil. O que eu acho? Nunca pensei seriamente sobre o assunto. Sei que há decisão do Supremo Tribunal Federal sobre o assunto que eu, mesmo sabendo que devo, ainda nao li (lerei, já digo aos amigos, quando o correio chinês for mais eficiente que o nosso).
Tudo isso para dizer que já faz 16 dias que enviei o pacote, que saiu da Alemanha - como prometido - dois dias depois, chegando no terceiro dia em São Paulo e, até hoje, encontra-se, como me noticia o site, "recebido no agente do país de destino". 

Pelo menos ganhamos da China, certo?


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Agora que estou tentando levar uma vida mais saudável, tenho pegado o bonde (já disse que nao gosto de escrever tram, certo? Certo.) um pouco mais tarde. Invariavelmente tenho encontrado o carteiro que faz o percurso que passa pelo Instituto. Sujeito estranho, está sempre (não, não exagero!) com um cigarro na boca. 
Hoje, como de costume, subi no bonde e lá estava ele, com seu cigarro apagado, olhando para o chão, descuidado das cartas que se amontoavam no carrinho. Chegando perto da estacão em que ambos descemos, vi que ele começou a se agitar, levantou, olhou para os lados, colocou a mão no bolso, olhou o relógio, me encarou e sorriu. Sorri de volta, sem saber o que estava acontecendo. Por alguma razão que desconheço, o bonde parou e as portas nao abriram. Esse senhor comecou a ficar nervoso, mexias nos bolsos a procura de algo. Eu, já neurótico, achei que ele ia fazer alguma coisa contra mim. 
Ledo engano. Ele finalmente encontrou seu isqueiro num dos bolsos e, antes mesmo das portas se abrirem, acendeu seu cigarro. Uma velhinha que estava sentada atrás dele começou a gritar desesperada, que ele não poderia fumar ali, que fumar era proibido, que isso afetava a saúde de todos. As portas finalmente se abriram e ele, com o cigarro pendurado nos lábios, se despediu de mim. Quando fui dar o "Tschüss" pude perceber o prazer que aquele homem sentia ao tragar seu cigarro. 
Confesso que senti uma ponta de inveja daquele senhor e que, por alguns segundos, pensei em comprar uma carteira de cigarro numa máquina que há na esquina da estacão. Tendo ele um trabalho horrendamente monótono e e pessimamente remunerado, pude sentir que aquela tragada, naquele momento, representava um prazer alcançável apenas para iniciados na arte do tabaco. 

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A confissão: comprei, já há alguns meses, um libreto com uma coletânea de frases, citações, tiradas, aforismos e o que mais, do Oscar Wilde. O homem era genial, como todos sabem. Logo, quando me ouvirem citar Oscar Wilde, não pensem que perdi meu tempo lendo The Picture of Dorian Gray, De Profundis, The Importance of Being Earnest, The Soul of Man under Socialism, The Critic as Artist. Não, não li. Li apenas a coletânea de pouco mais de 50 páginas...