domingo, 25 de janeiro de 2009

a Arte e a arte ou "não faz arte, meu filho!"

(na imagem: Simonetta e suas sobrancelhas)
"Não faz arte, meu filho!"
gritava minha mãe quando não queria que aprontasse alguma. Mais uma vez, solto em Barcelona, tive que improvisar... Matar tempo! Qual a melhor forma?! Por supuesto, algum programa gratuito. Como "pegar ônibus errado" e "tomar injeção na testa" estavam fora de cartaz, procurei outro programa cultural. Fui a Fundación La Caixa, no Caixa Fórum, uma construção muito antiga, reformada e mantida por um dos maiores bancos da região (algo como o nosso Santander Cultural). Pois bem, lá chegando havia uma exposição chamada O Pão dos Anjos, com obras selecionadas da Galeria Uffizi de Florença. Muitas coisas boas. Muitas! Mesmo. Para resumir, havia um Botticelli (numa Madonna que sempre lembra a moça da foto acima).

Pois bem. Depois de ler isso e um pouco disso, saí da exposição dos quadros do Uffizi e, como ainda tinha tempo até o almoço num aconchegante restaurante chamado Cheese Me, fui a uma outra exposição no mesmo lugar.

Resumo: o bicho pegou. A exposição chama-se Zonas de Risco e se trata de uma exposição de arte contemporânea que tenta (e não consegue) relatar as situações em zonas de risco que existem pelo mundo afora.

Assumo a obviedade: o problema é que a arte virou qualquer coisa. Explico-me. Assim me senti diante daquela estranha arte, com letra a bem minúscula. Obviamente é inegável a qualidade (e a inovação/revolução proporcionada por) de alguns artistas, digamos, modernos/contemporâneos (para citar uns poucos: Picasso, Klimt, Klee, Rothko, Kandisnki, etc... Dalí não!). 


Logo no início três barris de petróleo, um em cima do outro, presos pelas extremidades para, nas palavras do artista, “demonstrar a falácia da estabilidade do modelo neoliberal baseado no petróleo”. Pelamor... Obviedade que só não é suplantada pela carga ideológica da, digamos, obra ou instalação. A obra teria algum valor, para o que se propõe (obviamente!) se os barris caíssem, demonstrando a instabilidade, portanto, e, de alguma forma (use a criatividade, meu caro!), levantassem novamente à posição original imaginada pelo artista. Do jeito que está, mais parece que o ‘modelo neoliberal’ balança mas não cai, para utilizar o dito popular. Uma pequena curiosidade: os barris de petróleo da instalação, ao girarem, produzem um ruído que, além de ensurdecedor, é absolutamente repugnante aos ouvidos. Perguntei ao guarda como ele agüentava aquele estrépito, ao que ele me respondeu: só preciso agüentar por doze minutos por hora. Sim. A obra do artista, para não produzir danos aos tímpanos, somente pode ser observada pelo mesmo guarda por doze minutos... A desumanização da arte, a que se referia Ortega y Gasset, é coisa séria! 


 Após, passei para a outra instalação: Steve McQueen, Shit in your Hat, Head in a chair. Um mímico, de feições ambíguas (ora masculino, ora feminino) fica realizando as ordens emanadas por um locutor invisível. O intuito é demonstrar a falência de estados totalitários que usam a tortura (?) como método. Tortura é ver os maneirismos daquele mímico... Podem me chamar de filisteu, ignorante, rude e quejandos. Atualemente basta que se auto-intitule artista para que, absolutamente, qualquer coisa vire arte (um cachorro amarrado, por exemplo).
Como disse José Guilherme Merquior, ao se referir a um cobertor pintado e apresentado como ‘instalação’ e comparando com a obra dos grandes mestres da pintura: “Dou um doce para quem sentir o mesmo quando enxerga a enxerga do MoMA”. De fato, há que se dar razão aos críticos e historiadores da arte mais conservadores: existe a Arte e atualmente a arte. Saí de lá com a sensação de que não se faz mais Arte... Ou melhor, eles não ouviram a própria mãe e, infelizmente, ali só se faz arte!!

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