sábado, 7 de novembro de 2009

Expor e ser exposto

A história é antiga. O representante de um partido com posições extremas, nesse caso à direita, é convidado a participar de um programa de televisão para expor as suas idéias e, como sói, ser exposto ao rídiculo.

Com Nick Griffin não foi diferente. Aliás, com ele a segunda parte da afirmação acima foi cabalmente comprovada. Eleé o presidente do BNP (British National Party) e foi convidado a um dos talkshows mais importantes da BBC. Ombrando com ele, outros representantes de partidos políticos e uma escritora negra americana.


Do início ao fim foi um baile. Literalmente.


O sujeito começou afirmando que, se vivo, Winston Churchill faria parte do seu partido, dadas as suas convicções políticas e ideológicas. Foi confrontado com várias citações do bom e velho Churchill que o desmentiam. Confrontado com as suas próprias declarações, vergonhosamente saia pela tangente dizendo que aquilo havia sido adulterado pelo entrevistador. Confrontado por um negro, sobre as infinitas contribuições dos negros ao Reino Unido, aí incluídas todas as guerras nas quais ele foram obrigados a participar para defender a rainha, mais hesitação, mais contradições e, claro, mais um sorriso amarelo. A história se repetiu com os árabes da platéia. E com qualquer outra minoria que o partido do sujeito quer que volte ao seu país de origem. Na parte mais triste do combate, o sr. Nick Griffin, após ser confrontado por um judeu sobre as suas afirmações negando a Shoah, disse que havia mudado de idéia quanto aquilo. Mas não sabia dizer em que extensão e, pior, por quais razões. Ficou lá, com um sorriso amarelo, gaguejando, tentando desdizer o que havia dito, sem convicção alguma. Triste e patético, mas inexorável para qualquer pessoa que defende posições fundamentalistas desse gênero.



A única vez que a possibilidade de diálogo (sim, em termos bem amplos, eu sei) foi fechada foi quando ele foi confrontado pelo fato de ter relações com um dos cabeças de uma famosa organização racista americana. Ele argumentou que esse sujeito fazia parte de uma facção não violenta, que não queimava cruzes. A professora americana simplesmente disse que aquele era um terreno que ele não poderia pisar. E encerrou a discussão por ali. Por quê?!


Após o "debate", o sujeito gravou uma declaração choramingando, dizendo que tinha sido alvo de uma lynch mob e que recorreria a BBC para ter seu direito de resposta (?). Enfim, depois de ser exposto ao maior ridículo de sua vida, por sua própria culpa e sua inabilidade política-argumentativa, ele foi chorar num cantinho...


Qualquer tentativa de se proibir um sujeito desses de ir a um programa de televisão é contraproducente. Quando confrontados com as próprias barbaridades, somente um absoluto demente permanece impávido e mantem o que disse. Negar o Holocausto perante um menino que perdeu o avô é muito difícil, quase impossível, na hipótese de não se ser um sociopata.


E foi exatamente isso que aconteceu.
Idéia após idéia, uma pior que a outra, o Sr. Nick Griffin foi exposto ao ridículo das suas opiniões, ao vazio dos seus argumentos e, claro, a demência de se sequer pensar em defender qualquer uma daquelas posições. Uma entrevista dessas traz mais benefícios ao pessoal que expõe ao ridículo as posições defendias por estes extremistas do que qualquer proibição para que eles se manifestem.


Como refere o colunista do Die Zeit, num interessante artigo intitulado "Deve-se conversar com facistas?", seria um flagrante caso de censura caso fosse negada a possibilidade, do representante eleito de um partido, simplesmente porque suas idéias não são politicamente corretas. De fato, a liberdade de expressão deve ser garantida ao máximo. Sempre. Se o sujeito cometer algum tipo de crime no exercício dessa liberdade, que seja punido (severamente ou não) de acordo com os rigores da lei. Mas, aqui o ponto, sempre, ex post facto. Determinar antes do discurso o que pode ser dito em função da "political correctness" do conteúdo nada mais é do que censura. Países com tradição democrática centenária, como a Inglaterra, entendem isso. E é por essa razão que a BBC o convidou e, segundo consta, continará convidando, dado o súbito aumento dos índices de audiência.

Quem não entende isso é a multidão tosca e bovina que quis, por meio da violência, impedir o sujeito de entrar nos estúdios da BBC. Segundo algumas declarações, ele fazia apologia ao nazismo e, pior, era porta-voz de um hate speech (o conceito mais indeterminado que eu conheço!). Um chegou a afirmar que a BBC, dando voz e espaço ao sujeito, cometeria ela mesma (?) racism.

A resposta aos apelos da massa é apenas uma: não! E, claro, uma vez mais, não! A liberdade de expressão deve ser garantida a todos, independentemente de suas convicções e ideologia. Negar isso é negar a própria essência do Estado de direito que, felizmente, clama por essa pluralidade. Negar isso, aqui o ponto, é censurar previamente o que pode e o que não pode ser dito e sequer pensado. E, claro, quando é o guarda da esquina que decide isso, o buraco é bem mais embaixo...

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