sexta-feira, 17 de abril de 2009

Racista, eu?!

Sei que já está um pouco passado, mas não podia deixar de meter a minha (irrelevantíssima) colher no meio desse caldo. Resumo: uma menina se declarou (auto-declaração, portanto) parda para entrar no sistema de cotas da Universidade Federal de Santa Maria (alma Mater dos meus pais). Após passar por um "Tribunal Racial" teve a sua matrícula cancelada. Ela não foi considerada, pelos componentes da dita Comissão, merecedora do qualificativo 'cotista' por não ter sido discriminada e por ter sido a primeira vez que se declarava 'parda'. Nas palavras do burocrata de plantão: "Ela respondeu que nunca sofreu discriminação, que nunca se considerou parda, que se considera mais clara que outros integrantes da sua família, e que, no vestibular, foi a primeira vez que se disse “parda”. Partindo do espírito das políticas de ações afirmativas, a comissão, que inclusive tem representantes do Movimento Negro, entendeu que ela não se sente participante desse grupo – destaca Cunha." A participação dos 'representates do Movimento Negro' ainda é uma incógnita para mim, mas tudo bem. Digamos que eles tenham competência (não no sentido jurídico!) para dizer quem é negro, pardo, amarelo, azul, cinza e vermelho. A questão é muito mais simples: a lei não lhes dá competência (aqui sim no sentido jurídico) para tanto! A lei apenas exige a declaração do próprio vestibulando como condição necessária e suficiente para a garantia de cotista. Ela estava de má-fé?! Não sei... Esse ponto, no entanto, não me parece o mais relevante. Aqui, onde atualmente passo meus dias, essa história de raça já deu o que falar. E culminou em tragédia de escala mundial. A simples idéia de um "Tribunal Racial" com a participação de quem quer que seja deve ser, rigorosa e imediatamente, banida de qualquer instituição estatal, tanto mais das Universidades! Se a auto-declaração não funciona, que se descubra outro método. Agora, um grupo de experts julgando quem é isso e quem é aquilo ofende os mais básicos princípios de um país que se quer igualitário.
* * * *
Não sou, nem nunca fui fã do Caetano Veloso, mas achei isso aqui bem bolado: "afro-isso, afro-aquilo (e a forma americana “African- American” é ainda pior) é um modo racista de falar. Um egípcio é africano. Um bôer da África do Sul também. O mesmo para tunisinos, marroquinos e argelinos. “Africano” não quer dizer “negro”. Mas mesmo que todos os africanos fossem pretos, seria racismo designar povos tão variados (inclusive fenotipicamente), oriundos do maior continente da Terra, por uma só palavra. Iorubanos não são bantos, malineses não são bundos, haussás não são gege. São povos com histórias diferentes e muitas vezes tingidas de inimizades milenares. Chamar um mulato filho de uma branca americana com um preto do Quênia de “African-American” é uma grosseria histórica. Essas expressões são “muito piores do que qualquer outra adotada espontaneamente pelas pessoas”, como você diz. Usá-las é adotar o olhar do traficante de escravos."
(na imagem, a afro-sul-africana-descendente Charlize Theron)

3 comentários:

FF disse...

"A simples idéia de um "Tribunal Racial" com a participação de quem quer que seja deve ser, rigorosa e imediatamente, banida de qualquer instituição estatal, tanto mais das Universidades!"

Concordo. Mas, por outro lado, tem que dar um jeito de compensar as diferencias materiais no ensino público. Eu sei, é anti-meritocracia, em mais de um sentido. Mas acho realmente preocupante o cenário das nossas faculdades federais. Quero dizer, não é bom que o cara do primeiro ao terceiro grau viva cercado de iguais - racial e socialmente. Cara sai de uma faculdade de medicina ou de direito e vai ser médico ou juíz sem a menor noção de realidade.
Não sei se quotas resolvem isso, mas talvez fosse um experimento justo de ser feito - em cima do velho e bom princípio da diferença. O tipo de quota? Bem, esta é outra discussão. :)

Pedrinho disse...

Fabs,
o meu argumento é muito mais simples, mas achei "jurídico" demais para colocá-lo no post.
O art. 208 da Constituição fala em "segundo a capacidade de cada um".
A própria Constituição, portanto, estabelece o critério pelo qual será franquado acesso ao ensino superior.
Nesse critério também extá implícita a função do "ensino superior, da pesquisa e das artes": produzir ciência e arte de ponta.
Justiça social, igualdade de oportunidades e quejandos não entram na jogada.
O único critério é a "capacidade" individual.
E, claro, havendo uma regra constitucional expressa que define o critério, para não aplicá-la ou superá-la são necessárias razões e justificativas condizentes.
O apelo à "injustiça histórica" ou coisas do gênero borra o debate e só contribui para a segregação dos "cotistas".
Enfim, capacidade é capacidade e não - e principalmente - não deve ser confundido com cor da pele, classe social e, obivamente, NUNCA com raça!
Acredito que em se contornando essa regra constitucional e não se aplicando a "capacidade de cada um" estar-se-ia dizendo, indiretamente, que os cotistas nãopossuem a mesma capacidade dos não-cotistas. O que eu e tu sabemos, obviamente, é uma rematada bobagem!!!

Anônimo disse...

Pedrão,
diz pra ela que ela tem a quota dela garantida lá em casa...
Abs,