quarta-feira, 1 de abril de 2009

Mestre Marçal ou carinhas felizes

Ontem tive uma conversa virtual com um antigo colega de faculdade. A bem da verdade, foi colega em apenas algumas cadeiras e conversa não é o conceito mais adequado, mas deixemos estar. Na realidade foi mais ou menos um monólogo virtual, comigo respondendo por meio de risadas virtuais e aquelas carinhas engraçadinhas que o MSN disponibiliza. Ele passou longos minutos explicando suas mais variadas "jogadas no mundo da advocacia corporativa e empresarial" e como todas haviam dado absolutamente certas. De como ele, e somente ele, havia feito as escolhas certas. Mestrado logo depois da formatura?! "Bobagem" escrevia ele. "Eu me inscrevi só porquê (sic) o meu pai me obrigou. Se tivesse passado não cursaria". Coisa de gente sem visão, deixava explícito em outra frase. Ele, sim, com visão, sabia que o ideal era ganhar dinheiro com as empresas que precisam de bons advogados e, somente depois, se dedicar aos esforços acadêmicos. Antes disso é bobagem e, ipsis literis, 'a pessoa fica viajando, sem saber o que acontece no mundo real, ainda mais se vai pro esterior (sic)'. Fiz a bobagem de dizer que estava no exterior (com 'x'). "Alemanha, tchê?! Pra que isso?" Vai querer escrever em alemão no Brasil?, perguntava em uma ironia mal disfarçada. As minhas parcas tentativas de explicar as minhas motivações e o que realmente me trouxe até aqui não surtiram efeito diante de um argumento poderoso dele: "Isso é uma debilmentalice (sic) tua!" Somente alguém com sérios problemas mentais (como eu) poderia querer vir passar cinco anos "longe do verão e do Carnaval pra ficar lendo Kelsen...". De nada adiantou dizer que eu não gosto de verão, (muito menos!) de Carnaval e que lerei Kelsen só se sobrar tempo. Em vão. Tudo em vão: "tu vai ficar aí lendo Kelsen, enquanto tem outros aqui captando clientes. Bobagem!" O monólogo continuou, sempre com odes à inteligência dele e de mais ninguém. Como poderiam todos os nossos colegas de faculdade ter dado "tão errado" na vida, indagava o sujeito. Lembrei a ele que muitos passaram em cobiçadíssimos concursos enquanto outros já eram advogados respeitados de escritórios reconhecidos. "Outros que não sabem a bobagem que estão fazendo... trabalhando pros outros". Ufa! Eu não sou o único a estar agindo errado, pensei. Menos mal! "De que adianta saber todas as leis daí se tu não sabe nada de como funciona aqui?", dizia num tom algo entre o ríspido e o desrespeitoso. Já escrevi aqui que sou um cara paciente e não costumo perder a calma. Continuei lendo tudo que ele escrevia e respondendo com carinhas felizes. Até que ele sentenciou: "tu devia largar tudo e fazer como eu... enriquecer antes dos trinta e ir virar doutro (sic) na USP". Poderia ter perguntado como ele iria enriquecer tão rápido; como ele faria para entrar na USP; como ele faria para conciliar a advocacia e o doutorado, etc, etc. Achei por bem não perguntar nada disso. Simplesmente mandei uma carinha sorridente e com óculos para ele. Ele disse que tinha que ir, que tinha uma reunião importante com o presidente de uma empresa que, por causa do planejamento dele, ia começar a exportar para a China e Rússia. Parabenizei-o pelo cliente e, como sempre, coloquei-me a disposição caso ele precise de alguma coisa por aqui. "Cara, valeu msm, mas qqr coisa eu pego um jatinho ou avião e vou eu mesmo... Eu mando muito bem no inglês!". Por mais que ele possa ter razão em alguns aspectos, depois da conversa/monológo virtual, só consegui pensar em uma frase:
Tchê, como já dizia mestre Marçal, pode encher a tua piscina só não esvazia a minha bacia!
*** Como ninguém sabe quem é o sujeito e ele, com 167.498.345,99% de absoluta certeza, não perderá o precioso e bem remunerado tempo dele lendo esse irelevantíssimo blog, não vejo problema em relatar o ocorrido... Além do que, precisava colocar isso pra fora!!

5 comentários:

Leandro Hilgert disse...

Grande Pedro. Continue "postando" aí no blog. Tens um leitor assíduo em Floripa. Um forte abraço e todo o sucesso.
E pra colocar um "Spruch" sobre o tema do teu último "post":

Ein reicher Mann ist oft nur ein armer Mann mit sehr viel Geld.- Aristotoles Onassis

P.S.- também já ouvi (e repetidas vezes) a mesma conversa. Quem dera "eles" entendessem quanto valem as realizações pessoais. Segue firme aí!

Pedrinho disse...

Leandro, o Onassis e tu não poderiam estar mais certos!!! Abraço

Unknown disse...

Pedro,

Pensei em descrever como "inacreditável" a conversa, no entanto, pensando um pouco melhor, verifiquei que se trata de algo mais corriqueiro do que eu desejaria que fosse. O desprezo pelo meio acadêmico em busca de contato com o "mundo real" mostra bem a índole da pessoa.

Aproveita muito bem teu tempo aí, que isso sim não tem preço - ao contrário de certas "amizades" que não valem um centavo furado.

Abração
JP

p.s. - como sempre, saudações ao Mustafá.

FF disse...

Tu acredita se eu te disser que aconteceu praticamente a mesma coisa comigo?

Resta saber se foi o mesmo colega...
:P

Unknown disse...

Fala Pedrão!

So quero ver a cara dele daqui a 5 anos virando a esquina da Mostardeiro e vendo um prédio com teu nome em cima!

Abração,

Rafa