quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Bêbado, não grite. Por favor!

dias as janelas da rua onde eu moro apareceram cobertas com lençóis e roupas de dormir. É uma forma de manifestação dos moradores: a barulheira dos bêbados está incomodando o sono alheio.

Como todos sabem, cada cidade tem o seu "bobódromo". Aquela rua onde todos vão para ver e serem vistos. Aqui, a rua mais movimentada da cidade durante a noite, que leva o sugestivo nome de Rua de Baixo, dista 50 metros da minha rua, a Rua dos Três Reis Magos (pois é...). Boa parte das pessoas que saem das festas passa por aqui no seu caminho pra casa. A conseqüência (como sempre!) é inevitável: necessidades fisiológicas (número 1, na maioria das vezes) por toda a rua, gritos, berros, conversas, garrafas quebradas no chão, mais gritos e, ontem, uma briga de namorados (ambos com ‘o’ no final). Enfim, confusão mais confusão.

Os moradores resolveram se unir e mostrar sua indignação pendurando lençóis com inscrições infames: “Barulho, urina e sujeira fora!”; “Nós precisamos de sono”; “O centro histórico está sem futuro”. O meu (querido e insubstituível) locatário resolveu, para desespero dos compositores, fazer um péssimo trocadilho com uma conhecida canção e escreveu: “Eu perdi meu sono em Heidelberg”*.

A conseqüência direta foi que a rua ficou mais feia. No lugar de prédios históricos bem conservados, agora, sou obrigado a olhar para lençóis velhos e camisolas ridículas. Há, inclusive, uma ceroula (sim, sim) pendurada.

A segunda conseqüência foi indireta: pense no que se precisa fazer para que um bêbado não grite? Ficar em silêncio e torcer para que ele não grite, certo?! Pois então. E o que fazer para ele começar a gritar como um alucinado? Acertou quem disse: “pendurar lençóis e camisolas pedindo silêncio!” Todos os bêbados que antes deixavam apenas as suas “marcas de urina”, agora resolvem desejar um “bom sonho” aos moradores que querem dormir. Ontem mesmo, depois de acordar no meio da noite, escuto um: “Durmam bem, moradores que não conseguem dormir” gritado a todo pulmão. Aquilo não era um desejo altruístico, era uma declaração de guerra! Claro, a ironia do bêbado (muito provavelmente não intencional!) é, para dizer o mínimo, s-e-n-s-a-c-i-o-n-a-l!!

Ironias e efeitos colaterais deixados de lado, hoje, quinta-feira, quero ver como será. Já estou com meus medos de que será mais uma noite com desejos de boa noite gritados à toda potência. Se for, tudo bem. Eu durmo mesmo assim. Fico com pena, mesmo, é das velhinhas que estão tendo que dormir sem as suas camisolas azul-bebê...

* A famosa canção diz: “Perdi meu coração em Heidelberg” e pode ser escutada, com fotos da cidade, aqui.

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