domingo, 4 de outubro de 2009

Gabriel Humbert Márquez

Depois que li isso aqui, me peguei pensando o que os diretores dessa ONG faria se vivesse ao tempo da publicação de Lolita. Imagine a cena: um sujeito, passado dos quarenta, casa com uma moça "só" por que ela tem um filhota de 12. A mulher morre, com a "ajuda" do sujeito e ele pega a moça e se vai, ficando cada vez mais, para usar um eufemismo, próximo dela. Dá mesada em troca de "favores" e, ato contínuo, rouba o dinehiro. Dolores é o nome da moçoila. Idade: 12 anos. Ficção?! Ficção. É a imaginação de um Nabokov derramada em papel. Sem a genialidade de um Nabokov, só me resta ficar cá imaginando como seria se essa ONG existisse ao tempo da publicação de Lolita.
A arte tem limites?! Obviamente que sim. Pode fazer apologia a alguma coisa ilícita?! Boa pergunta. Ninguém, à exceção de quem tem uma mente psicologicamente deturpada, vai sair a ter casos com meninas de 12 anos depois de ler Nabokov. Da mesma forma, nenhum velho de 90 anos vai sair a procurar prostitutas virgens (oxímoro?!) de 14 anos na selva colombiana...
A arte tem limites?! Obviamente que sim. Respeitar o sistema legal do país onde a obra for publicada é uma necessidade. Ah, é?! E "Versos Satânicos" não violou o sistema legal de vários países?! Claro que sim... Mas esse tipo de "violação da legislação" é o objetivo mesmo da arte. E é aqui que entra a sua real e promordial importância: ela é que a alavanca de contestação; ela que serve como motor de provocação; ela que define novos limites do permitido; é ela que faz uma sociedade dormente acordar; é ela, enfim, que rompe com o que está aí e tenta trazer algo novo para a mesa. Ao fazer isso, obviamente, abusos ocorrem. É do jogo e, diria até, são necessários. Os abusos têm de ser controlados, pelos meios institucionais adequados. Mas, tenho rigorosa, total e absoluta certeza que coibir eventuais abusos é muito, infinitamente, melhor do que ter que ouvir alguma ONG qualquer a dizer o que pode e o que não pode ser lido, publicado, escrito, esculpido, pintado... Enfim, um mundo com Lolita's, Memórias de minhas Putas Tristes, Casa dos Budas Ditosos, A Cor Púrpura, Carlos Zéfiro, Hustler's e Playboy's (a lista é longa...) é um mundo infinitamente melhor do que esse que a ONG quer nos enfiar goela abaixo.

Um comentário:

Anônimo disse...

Amor nos Tempos do... Eufemismo?