quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Pigmaei gigantum humeris impositi plusquam ipsi gigantes vident ou Sir Isaac Newton

algumas semanas, conversando com um grande amigo - e Mestre -, a discussão enveredou pela história da Faculdade de Direito de uma determinada Universidade Federal. Depois de algum tempo, perguntei: "mas quem foi o professor titular de tal disciplina?". Silêncio. Cara de dúvida. Mais silêncio. Isso nos levou a mais uma discussão sobre a nossa absoluta falta de tradição/história e, a absoluta falta de vontade e/ou intenção de construir uma história/tradição.
Os professores entram, ensinam (ou tentam!) milhares de alunos, ficam velhos e se aposentam. Está acabada a carreira. Sem reconhecimento. "Sem um abraço", dizia. Sem nada. O único registro é o levado pelos alunos, nada mais. Talvez, se o professor tiver sorte, uma palestra ou duas em sua homenagem promovida pelo Centro Acadêmico. Talvez. Uma pena, digo eu. Uma pena mesmo. Já é lugar comum afirmar que somente aqueles que conhecem a sua história podem construir um futuro melhor ou, porque não, um futuro om alguma qualidade. Ontem passando pela frente do maior prédio da Universidade me deparei com um cartaz gigante com a seguinte inscrição: "Futuro. Desde 1386". Sensacional! Nada mais, nada menos. A Universidade poderia estar se vangloriando de seus inúmeros prédios modernos, dos mais avançados laboratórios, dos milhares de dólares de copyright que recebe, de seus doutores e professores que palestram ao redor do mundo. Nada disso. Antes pelo contrário. O futuro só se faz sabendo que existiu um passado. E é ele que deve ser vangloriado e festejado. Se chegamos até aqui, foi o caminho trilhado que importou, não tanto a chegada.
A razão é óbvia: o presente do qual se pode vangloriar é temporário. Também o moderno hoje será obsoleto amanhã. Mas os quase 7 séculos de história são permanentes. Isso não passa e não acaba. Isso, sim, já ficou. E, melhor de tudo, só aumenta! Vim no trem pensando: será que é só isso que "nos" falta? História? Tempo para nos desenvolvermos? Duvido. Duvide-o-dó. Falta, e muito, a percepção de que somente (re)conhecendo o que já foi feito anteriormente é que se pode, verdadeiramente, buscar o futuro. Nem que seja com a seguinte frase: Futuro. Desde 2008.
(na imagem: a construção do futuro nos alicerces do passado ou standing on the shoulders of giants)

2 comentários:

Anônimo disse...

Nunca fui boa com o tempo. De certo porque fiquei traumatizada quando um dia ouvi alguém falar que o futuro era um apenas um "emaranhado de possibilidades". Não que eu acreditasse na existência de uma linha da vida, sabe, daquelas que já vem traçada (o destino?); contudo, quando escutei aquela frase dita sem qualquer preocupação, na tentativa de sintetizar a vida (com sabedoria), uma palavra saltou da minha boca, ainda que eu não dissesse nada: covarde! Porque não notava que, enquanto esperava o futuro atrás da porta, o presente se tornava algo que se aproximava ao nada e que um dia, certamente, ele falaria que tinha sido tudo o que não queria para si e que, (in)felizmente, era (seu) passado. Eu lembrei disso quando li o post, da importância do que já foi e do quão colorido é o mosaico do meu ontem. Que, venha, agora, com base nele, o futuro! Gostei muito do que foi escrito. Parabéns!

Anônimo disse...

Depois que foi escrito "Sete anos", fiquei pensando se o comentário feito para este post não seria mais apropriado para aquele, porque simplesmente aproveitei o tema "tempo" para falar não exatamente no sentido do que foi aqui registrado. Mas, enfim, foi a idéia que surgiu no momento!

Esta manhã estava lendo um livro e encontrei uma frase que me fez lembrar do que aqui foi escrito, por isso, mesmo sendo, no mínimo, insistente, mais uma vez, faço um comentário transcrevendo a seguinte frase, que consiste na "justificativa" que André Comte-Sponville dá ao fundamento de seu livro:

"Não que eu não tenha dito nada de meu neste livro, ao contrário! Mas só possuímos o que recebemos e transformamos, o que nos tornamos, graças a outros [mestres] ou contra eles"

Pura verdade.