quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Sete anos

Uma das primeiras frases d'A Montanha Mágica de Thomas Mann é a seguinte:

"Não é propriamente ao tempo que a história deve o seu grau de antiguidade".

Juro que tal frase me instigou desde a primeira vez que a li. E não foram poucas depois que “roubei” o livro da minha mãe. O romance, um calhamaço, foi uma das mais difíceis leituras que já fiz. Comecei e recomecei a obra várias vezes e aquela frase indecifrável continuava lá. Pode algo ser antigo, mesmo que não tenha passado muito tempo desde a sua ocorrência? Se não é ao tempo, ao que se deve a antiguidade de uma história?! Aos seus personagens? Ou as características que são sempre as mesmas em todas as histórias e se repetem em um retorno nietzscheneano interminável?!
De qualquer forma, o importante é que essa frase me marcou profundamente e não consegui esquecê-la. Sempre que olhava para o livro (agora paradinho acumulando pó) lembro de Hans Castorp, Settembrini e Naphta e as aventuras naquela montanha.
Outra frase que calou fundo foi dita quando eu ainda tinha 12 anos por um psicoterapeut uruguaio (salvo engano) chamado Juan Carlos Kuznetsov. Durante um jantar lá em casa a primeira pergunta que ele me fez foi: "Quantos anos tu tem?" ao que, com um largo sorriso por saber a resposta, disse: "12, tio". No rebote recebi uma das respostas mais enigmáticas que já ouvi: "Pois bem. Na tua idade eu já tinha 13." Aquilo não saiu da minha cabeça por anos. Confesso que até hoje ronda meus pensamentos mais estranhos antes de dormir. Como poderia ele, aos 12 anos como eu, já ter 13?!
 Relato isso apenas como gancho arbitrário para falar do tempo. O prognóstico dessa Temporada Alemã é de, no mínimo, uns bons três anos. Todo esse tempo, longe das pessoas mais especiais e queridas. Nem tão longe dela, é certo, mas longe de tudo ao que eu estava acostumado. Em suma, longe de quem e do que me faz (e me fez) bem. Parafraseando o início do romance de Thomas Mann, digo:

  “Não será num abrir e fechar de olhos que terminará essa Temporada Alemã. Não bastará para isso os sete dias de uma semana, nem tampouco sete meses. Melhor será que desista de computar o tempo que decorrerá sobre a Terra, enquanto esta tarefa me mantiver enredado. Decerto não chegará, Deus me livre, a sete anos.”

  Por fim, pode alguém com doze já ter treze???

Um comentário:

Anônimo disse...

Foram nós muito bem atados os existentes entre "A montanha mágica", a pergunta do médico e a sua "Temporada Alemã", Pedrinho.

Ao pensar em reponder a indagação deixada ao final do tópico, lembrei de uma passagem da obra de Thomas Mann que talvez "nos" ilumine ao tentar encontrar resposta. Trata-se de uma conversa entre os primos Castorp e Joachim, na qual o primeiro se manifesta sobre o tempo:

"O tempo absolutamente não tem natureza própria. Quando nos parece longo, é longo, e quando nos parece curto, é curto, mas ninguém sabe em realidade sua verdadeira extensão. (...)
Percebemos o espaço com nossos sentidos, por meio da vista e do tato. Muito bem! Mas que órgão possuímos para perceber o tempo? (...) Como é possível medir uma coisa da qual, no fundo, não sabemos nada, nada, nem sequer uma única das suas características? (...) Para que o tempo fosse mensurável, seria preciso que decorresse de um modo uniforme; e quem lhe garante que é mesmo assim? PARA NOSSA CONSCIÊNCIA, NÃO É. Somente o supomos, para a boa ordem das coisas,e as nossas medidas, permita-me esta observação, não passam de convenções..."

Mas por que você não perguntou pro médico o que ele quis dizer com esta frase, agora para "nós", inquietante?