segunda-feira, 23 de março de 2009

Convívio forçado

Um dos requisitos psara a declaração de união estável é a coabitação(*) dos consortes. Entendo e assino embaixo. Ninguém pode querer ter vida com outra pessoa sem ter a obrigação de dividir o mesmo teto com ela. À explicação: morar com outra(s) pessoa(s) é complicado. Dividir a cozinha é bucha. Não é fácil chegar para comer e encontrar alguém fumando sentado em cima da mesa (de pés descalços) e a louça usada há três dias ainda por lavar paradinha na pia. As baratas e ratos dançando, festejando e chamando os amigos da mesma espécie para o banquete! Ao começar o curso de alemão, foi-me indicada uma moradia. Eu não tinha nenhum poder de escolha. Ela foi selecionada e eu tive que vir morar nela. Como está naquele livrinho do Milan Kundera, perguntei impotente diante da óbvia resposta: Muss es sein? Es muss sein.(**) Por aqui divido cozinha e banheiro com o Mustafá, com outros dois Mustafás e mais dois brasileiros. Tudo muito bom, tudo muito bem. Até chegarmos às diferenças culturais e de hábitos de limpeza e higiene. Entre árabes e não-árabes. Entre brasileiros e outros brasileiros. Entre brasileiros árabes e brasileiros não-árabes. Não me entendam mal, por favor. Nunca fui um maluco por limpeza, o que pode ser facilmente confirmado com uma simples pergunta à minha linda e adorada irmã. Mas deve existir (e existe!) um limite para tudo. A coisa começa a ultrapassar esse limite quando a faxineira contratada para limpar o andar ameaça pedir demissão em razão da sujeira do 2. andar; quando o zelador deixa bilhetes e, diante da ineficácia dos mesmos, espera na porta para avisar que o banheiro e a cozinha não serão mais limpos enquanto "não dermos um jeito naquele horror"; quando se acorda em horários não ortodoxos para fazer a janta na cozinha do andar de cima (ou de baixo); quando urubus começam a sobrevoar o prédio e não há nenhum cachorro morto nas redondezas. Aí, sim, temos aquele limite (que em tese deveria ser inultrapassável) sendo deixado para trás. Na poeira. Melhor: na sujeira. (Poupemo-nos de detalhamentos escatológicos em relação ao banheiro. Apenas digo que não há nada pior, no entanto, do que dividir banheiro. Aí mora o cerne da questão. O x do problema. A merda [com trocadilho!] da convivência com outra(s) pessoa(s)!) Com essa Temporada em Mannheim chegando ao fim, o horizonte parece bom. Pelo menos quanto ao estado da cozinha e dos banheiros! Oxalá! (*) Com a nova reforma ortográfica, aquela que unificou a mesma língua portuguesa (veja-se o significado de autoclismo e cimeira em Portugal) não sei se "co-habitação" leva hífen ou não. Pelo que pude perceber, nem os doutores que unificaram conseguiram decidir. (**) Referência um tanto quanto óbvia à Insustentável Leveza do Ser onde se pode ler uma frase que resume, mais ou menos, a minha impotência diante da moradia para mim destinada: "(...)para nós, o que faz a grandeza do homem é ele carregar seu destino como Atlas carregava nos ombros a abóboda celeste."

Um comentário:

Unknown disse...

Pedro, tu és uma figura mesmo... já que tu não responde meus e-mails, resolvi te deixar um recado aqui! Haja hein! Dou risada com as histórias!

Abração!!!
João Paulo