quarta-feira, 11 de março de 2009

Música para os deuses

Para relaxar das intermináveis regras da gramática alemã o professor, de quando em quando, faz uns jogos com a turma. Geralmente tais jogos envolvem conhecimento inútil que só serve para aquelas conversas às 3.30 da manhã depois de duas garrafas de vinho. Para não variar, hoje tivemos um quiz sobre cultura inútil(íssima!). Fiquei sabendo que os golfinhos conseguem dormir com apenas metade do cérebro e, portanto, não correm o risco de se afogar. Também que com a mesma quantidade de metal de um Boeing 747 é possível fazer 6 milhões de latas de cerveja. Ou que não existem aborígenes míopes e que Jack Nicholson descobriu aos 37 anos que aquela que ele julgava ser a sua irmã era, na verdade, sua mãe. Ainda que na Alemanha existe uma placa de trânsito a cada 28 metros (esse povo gosta mesmo de uma regrinha!). Por fim, que não se deve pegar um táxi para o aeroporto em Tóquio. Duas coisas, em especial, me deixaram impressionado. A primeira é que o Hino Nacional da Grécia tem, nada mais nada menos, que 158 estrofes. A segunda é que isso, em termos musicais, é quase nada. Explico-me. Um sujeito chamado John Cage, que ficou famoso pela sua composição 4'33'', que nada mais é do que 4 minutos e 33 segundos de silêncio, tem uma composição chamada As Slow As Possible. Sua ideia original era de que a composição tivesse entre vinte e setenta minutos e fosse tocada ao piano. Um grupo de maestros e filósofos (obviamente desocupados) resolveu levar a idéia de Cage ao extremo. No ano 2001 começou a execução da composição que levará nada mais nada menos que 639 anos para ser terminada. Sim. 639 anos. O número não é aleatório. Trata-se da idade do órgão no qual a composição será executada. Ao fim e ao cabo, o órgão terá 1278 anos de idade e a música terá, para glória, chegado ao fim. Uma curiosidade: as três primeiras notas duraram um ano e meio. Sabend0-se que raramente uma pessoa vive mais do 100 anos, será possível para alguém que nasceu após o ano 2001 e que venha a ser um centenário ouvir, aproximadamente, 15 porcento da obra do maestro. Das duas uma: ou John Cage (e aqueles que levaram sua idéia quase ao infinito) é um absoluto maluco ou ele faz arte não para os homens, mas para os deuses. Fico com a primeira opção.
(na imagem, uma jovem senhora comemora após ouvir 13% da obra de John Cage)

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