quarta-feira, 18 de março de 2009

Dar as respostas

Na minha curtíssima experiência docente tentei implementar um método demi-socrático. Explico-me: como não se pode exigir dos alunos brasileiros (por vários fatores) a quantidade de leitura que o método socrático full exige, tentava incitá-los ao aprofundamento da matéria, rapidamente introduzida em uma pequena exposição, com perguntas e mais perguntas. Sempre que recebia uma indagação respondia com outra pergunta, não raro perguntando a opinião do aluno sobre o tema. A piada (?) era que eu não sabia nada da matéria, ficava enrolando e fazendo tempo para poder pensar em alguma resposta.
Em algumas situações, quando a discussão entrava por caminhos tortos ou descambava para opiniões pessoais baseadas em entendimentos errôneos ou absoluto desconhecimento, tentava puxar a discussão ao centro, dando alguns pontos de apoio. Sempre entendi que assim conseguiria aprofundar a matéria, o espírito crítico do aluno e deixar de lado a monotonia do discurso (ou monólogo) do professor solitário a falar aos alunos. Hoje recebi a avaliação dos professores do semestre passado de uma das instituições onde lecionava. Num dos comentários escreveu o aluno, dentre alguns elogios (que, naturalmente, ficam de fora) e outros xingamentos (também excluídos): "O prof. fica perguntando, e perguntando, querendo que a gente pense numa resposta. Mas eu pago para ele me responder, não para ele me eprguntar (sic). As vezes ele fazia a gente pensar e eu conseguia intender (sic) a matéria melhor. Mas eu pago para ter as respostas do prof. não para ser obrigado a pensar numa resposta eu mesmo. Eu até gosto desse estilo, mas queria as respostas mais 'prontas', com maior entendimento para o aluno".
Em algumas situações uma crítica é, na verdade, um feliz elogio.
(na imagem, o aluno Platão querendo uma resposta imediata de Sócrates: "Tô pagando!", dizia com o dedo em riste)

Um comentário:

Anônimo disse...

Pedrinho! Muito bons os teus textos! resolvi comentar este em particular por que estou lendo um livro - HISTÓRIA DA FILOSOFIA - BRYAN MAGEE - em que aparece a tela em que mostras uma parte no final deste texto. Abaixo cito a "legenda" do autor do livro sobre esta figura por achar bastante pontual e concisa: PLATÃO E ARISTÓTELES - DOIS MUNDOS DA FILOSOFIA: Platão, à esquerda, segura o Timeu, uma obra de metafísica abstrata, e aponta para coisas superiores. Aristóteles carrega o seu Ética e diz, com seu gesto, que devemos manter nossos pés no chão. Estas duas tendências opostas da filosofia tem estado em conflito ao longo da história.
Aquele abraço aqui dos Pampas!
Sandro Tavares